Wednesday, December 01, 2004

14/05 - Volendan

Conforme previamente acertado, relógios sincronizados, hora 0730, nos reunimos para os últimos acertos com ovos e bacon. Iríamos invadir Amsterdã. Iríamos dar o troco, vingaríamos, quatro séculos depois, a invasão de Recife pelos holandeses.

Com o coração partido, nos despedimos do Hotel Spaander e de Volendan e, sem vacilar, sem olhar para trás, partimos para Amsterdã. Logo na chegada, um exemplo do espírito da cidade: passou por nós homem vestindo apenas um maiô de couro fio dental andando de patins. Isto às 8h da manhã. E tava frio! Seguimos via N27 até o ring, passando pelo túnel Ij e entramos pelo Centrum passando em frente à Centraal Station e deixando o carro num estacionamento pago próximo. A nossa primeira parada lógica foi no Tourist Information Center , onde comprei um mapa e um guia de passeios pela cidade.

Decidimos pegar o Museum Boat, um barco que vai pelos canais (Amsterdã também é cheia de canais) e faz paradas nos pontos em que estão os museus de interesse. Entramos na parada 1. A próxima, a 2, é para a visita ao museu da Anne Frank, que fica na casa em que ela morou, que foi preservada praticamente como era na época da 2ª guerra, durante a ocupação nazista. Impressiona e deprime a capacidade do ser humano de ser bárbaro e sangüinário e ao mesmo tempo resistente e sonhador. Entramos o Caio, a Aline, o Paulo e eu, enquanto a Jacque, a Karina e a Roberta ficaram passeando pela volta, inclusive tirando foto junto à estátua da Anne Frank. Logo ao lado do museu, havia um pequeno café com um computador de onde o Paulo acessou a internet e viu o nosso email, o perdidosnaespace@hotmail.com, que tinha algumas mensagens endereçadas ao Caio e a Aline.

Após curtas respostas às mensagens nos enviadas, fomos ao barco e seguimos até a próxima parada, onde ficam o Rijksmuseum e o Rijksmuseum Vincent Van Gogh. Optamos por conhecer o segundo, mas chegando, descobrimos que ele estava fechado e só reabriria em 24 de junho. Frustrados, resolvemos não ir ao Rijksmuseum porque, de fora, nos pareceu gigantesco e necessitaríamos de um dia inteiro para visitá-lo. Pena. Ao barco, novamente.

Descemos na parada seguinte, a do mercado das flores. Funciona mais ou menos assim: é um longa quadra que costeia um dos canais e que tem centenas de bancas que vendem os mais variados e tipos de flores e sementes, junto com lojinhas de souvenirs, camisetas ("Estive em Amsterdãn e não me lembro") e cartões postais. Atravessamos a rua de uma ponta à outra e, ao final, decidimos que era hora de almoçar (duas e meia da tarde).

Seguimos por uma rua próxima - entre carros, trens, ciclistas e sex-shops - e resolvemos almoçar no Planet Hollywood. Como almoço significa lanche, o Paulo e eu comemos steak sandwich (vem um bife dentro do pão), a Karina e a Aline um hollywood club, a Jacque - a exceção para confirmar a regra do lanche no almoço - uma massa, e o Caio jejuou.

Logo após almoçarmos, voltamos à parada por onde passava o barco e fomos com ele até o ponto de início do passeio, na Centraal Station. De lá, fomos conhecer o distrito da luz vermelha, mundialmente famoso por suas vitrines que expõem mulheres seminuas. A primeira impressão foi péssima: na vitrines (três ou quatro delas), expostas ao público, mulheres de programa, cada uma pesando cerca de 120kg, flácidas. Foi uma desilusão para o grupo. Eram isto as "holandesas maravilhosas"? Nossa decepção não durou muito. Logo ali perto, num beco estreito, onde passava uma pessoa em cada direção por vez, encontramos o motivo de fama de Amsterdã. Difícil foi convencer nós homens a continuar...

Lendo sobre o distrito da luz vermelha num guia alternativo que consegui num cybercafe da cidade, descobrimos que este lugar é um bairro como outro qualquer, onde pessoas vivem, trabalham, passam por lá a caminho de outros lugares. Só que as prostitutas estão lá, assim como os shows de sexo explícito e as pornoshops. Tão seguro quanto outros lugares por onde passamos. Têm também as coffe shops, os bares onde o consumo de maconha é liberado. Eles estão por toda parte, na boa.

Após termos visitados o Red Light District, fomos em direção ao estacionamento, parando num cybercafe para responder e enviar e-mails. Posta em dia a correspondência, fomos pegar o carro. E quem disse que encontrávamos a entrada do estacionamento? Procuramos, procuramos, perguntamos, até que uma fachada com a Betty Boop foi decisiva para encontrarmos o carro. Tudo pago, a decisão do grupo foi de ir para Harleen, cidade a poucos quilômetros a oeste de Amsterdã. Pela Haarlenmerweg, nos direcionamos à saída 103 para pegar a N200 até essa cidade. Logo na saída, vimos um moinho e paramos ao lado da estrada para fotos.

Poucos minutos depois, chegamos em Harleen, cidade de pequeno porte que tem como principal atração turística a Catedral de São Bavo, que possui um famoso órgão onde tocaram - entre outros - Handel e Mozart. Uma vez em Harleem, iniciaram os problemas: não encontramos nenhum hotel na cidade. Não que eles não existissem, apenas não os encontramos. Circulamos, circulamos e nada. Como já eram cerca de 18hs, resolvemos seguir e tentar um hotel num balneário próximo, Zandvoort.

Chegando lá, encontramos hotel. Milhares deles, mas todos com placas que diziam voll (belegt, complete). Lotados, todos, sem exceção. Certo, certo. Sexta-feira, feriadão, você deve estar pensando: "Como é que eles imaginavam conseguir hotel?". Mas eu lhes afirmo, estimados leitores, não foi isso o que nos derrubou. O que nos derrubou foi o fato de que justamente naquela praia e naquele final de semana estava sendo realizado o Campeonato Mundial de Windsurf. Quando percebemos que não encontraríamos hotel nem pintados de ouro, fomos jantar numa pizzaria antes de pegar a estrada novamente.

Nosso plano era andar um pouco e dormir num hotel de beira de estrada. Paramos em pelo menos cinco hotéis: eram muito caros (US$200,00 pela noite) ou estavam lotados. Cansados e com sono, por volta da meia-noite, encontramos um hotel com preço razoável em que decidimos ficar. Hotel Ibis, cidade: Veenendaal.

Thursday, November 25, 2004

13/05/99 - Monschau

Früistick no hotel em Monschau, após caminhada e fotos pelas ruas, com ovo cozido também e uma notícia: hoje é feriado na Alemanha, Bélgica, Holanda e Áustria. Este feriado "nos pegou de calças na mão", o que só iríamos descobrir mais tarde.

Saímos de Monschau em direção à Aachen pela 258 e aí ao nosso primeiro objetivo do dia, Eindhoven, já na Holanda. Tempo nublado, sugerindo chuva e, para nossa surpresa, um grande movimento de carros na estrada em sentido contrário, o que dava a impressão de que estavam fugindo de uma catástrofe natural ou de uma guerra.

Chegamos à Eindhoven com uma foto do Caio em frente a um chafariz, tirada no automático da máquina porque todos os outros haviam ficado na van, e a cidade completamente deserta, sem uma viv'alma nas ruas. Sem restaurantes, lojas, lancherias...nada. Circulamos por ruas vazias, tirei uma foto do Paulo em frente ao estádio do PSV (onde jogaram o Ronaldinho e o Romário) e resolvemos prosseguir a viagem. Decepção.

Andamos mais um pouco pela E25 e chegamos a Hertogenbosch, aparentemente menor que Eindhoven e tão deserta quanto. Voltamos a estrada, e logo após tivemos nosso primeiro contato com o povo holandês, num McDonald's. A atendente não falava inglês e teve que pedir ajuda aos colegas para nos entender. Impressão sobre os europeus e seus fast foods: ruim até o momento. Fumam, deixam os restos na mesa, um nojo. Questão de culturas diferentes. Com relação a isso, diferença de culturas, poderíamos também falar sobre o banho, mas isso é assunto para depois.

De volta à estrada - uma vez mais - decidimos ir até Amsterdã mas ficar numa cidade próxima, Harleem ou Volendan, a primeira ficando a oeste de Amsterdã e a segunda, uns poucos quilômetros ao norte, na beira de um lago. Como a sugestão de Haarlem era do Frommer's e a de Volendan da Nana (Anelise, cunhada da Jacque e deste que vos escreve) e a Jacque tinha boas recordações de lá, decidimos que este seria o nosso destino. Entramos no ring de Amsterdã em direção à Zanstaad e na saída 116 fomos rumo à Monnickendam, Marken e Volendan.

Lá chegando, por volta das 16h30, fomos direto ao Tourist Information Center, onde uma simpática senhora vestida à caráter nos atendeu e, quando dissemos que queríamos três quartos duplos com banheiro, fez um telefonema e nos conseguiu, ao preço de G$150 (Guilder é a moeda local) cada, lugares no Hotel Spaander. Este hotel, situado às margens do Ijsselmeer (um grande lago de água salgada), foi construído em 1853 e é uma das atrações turísticas do local. Pessoas vão visitá-lo apenas para ver seus restaurantes e bares, com decorações típicas da época e quadros de pintores da região espalhados por suas paredes. Grandes pintores estiveram por lá, como Renoir e outros. E é realmente uma atração à parte na cidade. Logo na chegada, a Jacque disse estar se sentindo no filme Somewhere in Time e, durante a janta, a Karina disse estar no filme Maverick. Os quartos, ótimos, decorados com motivos náuticos e com o detalhe do banheiro: banho só sentado, de chuveirinho, o que, aliás, é uma constante nos hotéis até agora (o chuveirinho).

A cidade, nada mais é que uma balneário do tipo cidade de pescadores, com o calçadão no pier com bares e restaurantes dos mais variados tipos. Como hoje é feirado (Ascensão), havia centenas de jovens pelas ruas, bebendo muito, ouvindo música, caindo pelas calçadas. Muito estranho ver as belas holandesas (já falei como são belas as holandesas? Não? São ES-PE-TA-CU-LA-RES) trôpegas pelas ruas em grupos só de meninas ou só de meninos (do tipo "indo para reunião dançante". Não sabe o que é uma reunião dançante? Crianças...). A Karina odiou. Se eu fosse solteiro, teria achado o máximo...

Após os rituais diários de higiene, fomos conhecer a cidade que havia à volta do hotel, mas o encontro com hordas de nórdicos bêbados nos fez abreviar o passeio e decidir jantar num dos restaurantes do Hotel Spaander. Escolhemos o restaurante do Maverick e uma mesa redonda. Nossa janta: o Caio, o Paulo e eu escolhemos o prato do dia (sopa de vegetais de entrada, galinha com molho stroggonoff, salada e pão). A Aline, Gambas (camarões), a Jacque um schnitzel com batatas assadas e a Karina um ala minuta (o equivalente holandês para isso). Jantamos calmamente (G$165,5) e logo após fomos ao salão ao lado onde havia sofás e poltronas para tomarmos um café e discutirmos o dia de amanhã quando invadiríamos Amsterdã.

Saindo do salão Maverick (denominação nossa) para o salão do café, fui antes de todos e tomei lugar num sofá. Próximo a mim, havia um senhor que enfiava o dedo no nariz repetidamente e, de repente, parava, virava para mim, e ficava me olhando fixamente sem nenhuma expressão no rosto. Quando estava começando a me apavorar, os outros chegaram e nos demos conta que ele era portador da doença de Alzheimer e não tinha noção do que estava acontecendo a sua volta. Enquanto tomávamos café, ainda passou correndo por nós em direção ao banheiro um jovem apenas de cuecas e todo molhado. Logo atrás, os funcionários do hotel que o tiraram de lá e mandaram-no embora. Provavelmente havia caído no canal que corta a cidade.

Hotel louco, cidade também.

Sunday, November 21, 2004

12/05/99 - Bruges

Café da manhã com ovo cozido do "Seu" Fevery (DE NOVO, DE NOVO). Levantando acampamento, nos despedindo do Paul (o "seu" Fevery) e saindo rumo à Bruxelas, via E40 (depois de sairmos para o lado errado, devido ao Paulo).

Primeira impressão: trânsito difícil. Chegamos e entramos em uma série de túneis até achar o caminho - pelo ring - para o Brupark, onde fica o Atomium, ampliação da forma de um átomo bilhões de vezes, que foi feito para a Exposição Mundial de 1958. Impressionante quando visto de fora. Pagamos "20 mijadas" (1mij=10BEF) cada um para entrar. A vista de cima é boa, mas fica prejudicada pelo vidro, o que não permite fotos. O passeio lá dentro foi decepcionante, e o grupo concluiu na hora que esta foi a primeira grande roubada da viagem.

Já nos afastando do parque, fomos em direção ao centro, em busca da Grand Place (as cidades belgas têm essa conformação, com a praça central, onde estão a prefeitura, a catedral, etc). Trânsito louco, conseguimos estacionar na Ilot Sacré, de onde seguimos para as Galerias Saint-Hubert (que tem uma loja da Häagen-Daz na sua entrada), e de lá até a Grand Place. Fotos em todas as direções e seguimos até o Menneken Pis, o símbolo de Bruxelas, que nada mais é que uma fonte/estátua de 60cm de um garoto urinando.

Ele foi presente o Arquiduque Albert e da Arquiduquesa Isabel ao povo da região da Grand Place, quando havia escassez de água em Bruxelas. Fotos dos homens e uma foto com uma bandeira do Brasil que vimos numa loja em frente ao monumento. Do Menneken Pis, seguimos em direção a Place du Grand Sablon ou, como disse o Caio, do Grande Sabão, deus adorado pelos belgas na idade média que purificava não só a alma como também o corpo... Nesta praça, existem muitos antiquários e lojas de chocolate, como a Wittamer, que - ao contrário do que dizia o guia do Caio - não tem preços "não não-razoáveis".

Falando em doces, quando todos ficamos indóceis concluímos que era hora do almoço. Retornamos à Grassmarkt e almoçamos no Quick, rede de fast foods espalhados pela Europa. A parada técnica do almoço serviu também para este que vos escreve receber o direito de um cartão vip do banheiro do estabelecimento por pleno uso de suas possibilidades...

Ao carro, novamente, e então aconteceu: a última impressão confirmou a primeira sobre Bruxelas. O trânsito era realmente caótico (descontando o fato de que éramos "Perdidos na Espace"). Ficamos no ring por quase uma hora, e só achamos a saída quando demos dinheiro a um senhor que estava pedindo esmolas numa esquina por onde passamos três vezes!

Saímos de Bruxelas decididos a ir à Monschau, na Alemanha, cidade recomendada pelo Marcelo Rech (Diretor Editor-Chefe do jornal Zero Hora) que ficava "há uma hora de Bruxelas". Após várias horas na E40 em direção leste com metade da Europa junto, entramos na N67 até Monschau. Foi a melhor coisa que fizemos no dia: Monschau é uma cidade de estilo bávaro encrustrada numa montanha com ruas estreitíssimas e hotéis agradáveis. Ficamos no Altenpost, em que um riacho passa sob ele, e dormimos com o som das águas passando. A janta, no restaurante do hotel, foi nababesca.

Com relação à comunicação, perfeita: eu lia as perguntas no guia de conversação de alemão e não entendia a resposta... Algumas palavras em alemão no meio de um inglês meia boca, tudo bem, conseguimos tudo o que queríamos.

Até amanhã.

Thursday, November 18, 2004

11/05/99 - Bruges

Café da manhã com ovo cozido do "Seu" Fevery. Após ligeira reunião, decidimos sair em direção ao Atlântico Norte. Ostend era o objetivo, mas vimos o mar mesmo em Brendene, onde visitamos uma feira que vendia desde galinha assada e biscoitos amanteigados até jaquetas de couro. A praia, como o dia: cinzenta e fria.

Avançamos em direção ao norte e chegamos a De Haan, a mais "disneylandiana" das cidades que visitamos na Bélgica. Nos sentimos na Main Street, do Magic Kingdom. Todas as ruas perfeitas e limpas de estilo vitoriano. Havia, inclusive, bicicletas e scooters para alugar, mas foi vã a minha tentativa de convencer o grupo a alugar uma com seis lugares e uma cestinha. Passamos também por Knockke-Heist, outro balneário, que ficou ofuscado pela boa impressão que De Haan nos causou.

Antes que o Caio tivesse um ataque de nervos ("Vamos visitar Bruges!"), voltamos para Bruges para conhecê-la. Chegamos de volta à cidade, deixamos o carro num estacionamento subterrâneo no centro e saímos a caminhar. Passamos pelo parque de diversões, por um parque onde escolares jogavam frisbee, e entramos na "rota dourada" (caminho marcado por essa cor num mapa da cidade que ganhamos de brinde e que indicava as principais atrações turísticas da cidade).

A nossa primeira parada foi no Minnewater (o lago do amor). Fotos, filme, banheiro a BEF$10,00, ver os patinhos com a Roberta e seguimos adiante, por estreitas ruas medievais. Após poucos minutos de caminhada, por volta das 14h, passamos em frente a uma patisserie onde vimos 6 (o nosso número) fatias de pizza brodjen (pizza de pão) que compramos para o almoço junto com uma appel taart (torta de maçã) -que pedimos para ser cortada em seis fatias - e refrigerantes, que saímos comendo pela rua. Na praça em frente ao Memling Museum, paramos para comer a torta e para Karina trocar a Roberta, que só faz cocô na fralda.

O museu, homenagem a este pintor que viveu em Bruges, fica no local em que havia antigamente o Hospital St-Jans. Foi neste hospital que Hans Memling esteve internado tratando ferimentos de guerra e, como demonstração de gratidão, pintou o seu famoso "Relicário de Santa Úrsula" e o deu de presente ao hospital. Enquanto nos deliciávamos com a torta de maçã que era nossa sobremesa (menos para a Aline, que não gosta destas coisas), ocorreu A Tragédia: perdemos o "naninho" da Roberta. Explicação: o naninho é uma fralda de pano que, junto com o bico, forma a dupla de "salva-vidas" dela. Cada vez que ela sente sono, fome, frio, medo ou está com raiva ou contrariada, ela pede "naninho-bico", e ai de nós se ela não consegui-los.

Como é que fomos perder o naninho, afinal de contas? Ninguém sabe ao certo, mas impressão é de que havia caído no chão sem notarmos ou ficado sobre um banco ou carro. Detalhe: só nos demos conta do acontecido bem mais tarde, o que nos tirou a esperança de tê-lo de volta.

Logo após o almoço, decidimos - para relaxar - fazer um passeio de barco pelos canais, que custa BEF$190,00 e dura meia hora. Fotos, filme. Na continuação, subimos no Belfort, a torre na Grand Place com seus 366 claustrofóbicos degraus. A vista lá de cima é muito bonita, e as fotos valem a subida e as pernas bambas que vem depois.

Recuperados e comendo batata-frita, continuamos até a Basílica do Sangue Sagrado, de arquitetura e interior impressionantes. Quando entramos, estava ocorrendo um ensaio de um coral de música sacra. Boquiaberto, assinei o livro de visitas em nome dos Perdidos na Espace. Saímos de lá, fomos caminhando lentamente até o estacionamento e voltamos ao hotel para ajeitar os cabelos das mulheres e ir ao banheiro. De volta ao carro, decidimos ir até Ghent, cidade vizinha, para jantar. Tranqüila e sonolenta viagem pela E19.

Visita à bela Ghent com chuva, cidade deserta e multa por estacionar em local proibido. Janta num pizzaria com atendimento em italiano falado com a Jacque e ótimas pizzas. Antes de terminar o dia, devo relatar que a tragédia que envolveu o naninho da Roberta terminou de forma positiva: o encontramos no lugar em que havia caído algumas horas depois de perdê-lo.

Tuesday, November 16, 2004

10/05/99 - Chegada

Chegamos em Bruxelas às 12h30min (hora local) com céu nublado de dentro do avião e com o agente da imigração com cara de poucos amigos sorrindo ao dizer que Jacqueline era o nome da sua esposa. Não conheci as quilométricas esteiras rolantes do aeroporto de Zaventem, das quais haviam me falado. O momento de maior tensão da chegada já era antecipadamente sabido: o tamanho do porta-malas. A tensão foi frustrada porque as malas couberam perfeitamente dentro dele.

Saímos aliviados do aeroporto, e, na saída, não notamos a bomba de diesel que fica na saída deste. Após alguns poucos quilômetros, recebemos o aviso - sob forma de um bip e o símbolo de uma bomba de gasolina no painel - de que estávamos ficando sem combustível. Iniciamos a procura por um posto, inicialmente em vão. Depois de pensar um pouco, paramos e perguntamos a um transeunte onde poderíamos encontrar uma gas station. Ele nos indicou o caminho da diesel garage, que não entendemos direito, mas mesmo assim logo depois encontramos uma, para alívio geral.

Tanque cheio, comprados os primeiros biscoitos e um leite com chocolate para a Roberta, seguimos em frente ("retroceder nunca, render-se jamais"). Tivemos, no caminho, uma vez mais a impressão de que os astros conspiravam contra a nossa viagem: surgiram nuvens negras no horizonte que rapidamente chegaram até nós e desabou uma tempestade de granizo. Muito granizo, de acumular gelo no pára-brisa do carro. A temperatura caiu de 21 para 9ºC em poucos minutos. Nem isso nos fez desistir. Continuamos pela E40 em direção à Ostend e, na saída 8, entramos à direita para Bruges.

Chegando em Bruges, comigo dirigindo e o Caio orientando, deveríamos ir diretamente para o Hotel Fevery com as indicações dadas por fax pelo dono. Procuramos. Procuramos. E procuramos. Passamos diversas vezes pelo mesmo lugar e nada, nenhuma pista do hotel. O Caio lia e relia o fax e não encontrava nada de errado, até que a Jacque tomou o fax em suas mãos e descobriu que o erro estava no fato de o Caio estar deixando de ler uma linha inteira do fax... Com a orientação certa, chegamos facilmente.

Após nos instalarmos no hotel, banho geral (individuais, não pensem bobagens) e nos reunimos para caminhar por entre os canais, até a Grand Place, passando por uma estátua de Jan Van Eyck, pintor belga que passou maior parte de sua vida em Burges. Jantamos num restaurante italiano (menu a BEF$290,00). Procuramos fraldas e lenços de papel para a Roberta e fomos dormir.

Monday, November 15, 2004

09/05/99 - O Dia

Acordamos relativamente cedo para poder terminar de gravar as já citadas fitas para ouvir na van (que viemos a descobrir em Bruxelas que não tinha toca-fitas!), acertar os últimos detalhes e fechar a casa. Fechar malas, janelas, colocar o lixo para fora, etc.

Por ser Dia das Mães e o aniversário do meu pai, eu havia planejado um grande almoço coletivo reunindo o grupo dos Perdidos na Espace e suas famílias. Reservei uma grande mesa na Churrascaria Moinhos de Vento para o meio dia, três horas antes do embarque.

O Casal X com a pequena x' não iria porque haveria um grande almoço com a família do Paulo na casa dos pais dele. Além deles, todos os outros foram. O Casal Z com a família viria de Santa Cruz do Sul direto para o almoço.

Na hora marcada, todos estávamos lá. O almoço foi bem divertido, com fotos e risos. Alto astral, enfim. Não poderia ser diferente. Em pouquíssimas horas embarcaríamos para a viagem que vinha sendo planejada há praticamente um ano.


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Chegamos no aeroporto às 14h20min, para fazer o check-in e iniciar as despedidas finais. Embarcamos as malas para GRU-BRU (Bruxelas passando por Guarulhos), fomos até o balcão da VASP para fazer uma correção em nossas passagens e iniciamos as despedidas.

Estavam todos lá, menos os pais do Paulo. Fotos do grupo, fotos só da Roberta, fotos das famílias com os filhos viajantes, beijos e abraços nas famílias, nossas e do resto do grupo, caminhando para a sala de embarque, último beijo da Vó Sílvia na Betinha, fecha-se a porta, estamos só o grupo, já separados de nossas famílias, aguardando a hora do embarque.

Meu último comentário, já na sala de embarque:

- Agora não tem mais volta...

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Até este ponto, a narração foi feita antes de viajarmos. A partir daqui, praticamente tudo foi escrito no dia em que ocorreu. Um trabalho de persistência que jamais acreditamos que eu seria capaz de cumprir. Boa viagem.

Voltemos ao dia do embarque...

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Guarulhos, São Paulo. Dezenove horas. Esperamos.

Vôo tranquilo de Porto Alegre para cá, com o pequeno casal de olhos verdes. Ou azuis, sei lá. Em uma hora e trinta minutos sai o vôo que fará o trajeto GRU-BRU e que nos conduzirá para a última parte da viagem, que é ela mesma de fato, após onze meses de preparação.

Expectativa de como será, se caberemos todos na Renault Espace (a van) e de como seremos enquanto família. Ainda é muito cedo para isso, mas em breve teremos claro o papel de cada um nesta engrenagem, que tem tudo para ser perfeita da mesma forma que pode vir a ser o inferno.

Escrevo isso numa lancheria já na área de embarque internacional. O cara ao meu lado parece um homem de neanderthal. Fiquei com medo, vou me juntar ao grupo.

Sunday, November 14, 2004

08/05/99 - A Véspera

Sábado de manhã de férias, sem ir ao hospital. Últimos preparativos, arrumando malas. Almoço festivo (feijoada) na casa dos meus pais para comemorar o aniversário (09/05) do meu pai e comer feijão pela última vez em cerca de um mês (para evitar crise de abstinência). Comemos feito condenados à morte.

À tarde, tentamos entrar num shopping center para comprar um CD para limpar as lentes do meu CD player, sem sucesso. Fomos direto a outro, em que conseguimos entrar mas não encontramos o produto. Em compensação, compramos 7 (sete!) CDs em promoção, desde sucessos da jovem guarda até uma coletânea do Lou Reed. Na terceira tentativa, comprei o limpador das lentes.

De lá, fomos direto assistir uma missa junto com os pais da Jacque, para pedir proteção para o grupo durante a viagem. Saindo da missa, por volta das 20h30min, decidimos jantar. Ligamos para o Diovanne, grande amigo e colega de residência médica, cardiologista. Combinamos de nos encontrar no Restaurante Copacabana, para comermos massa.

Chegamos antes dele, nos sentamos, pedimos vinho tinto e esperamos. Logo depois, vindo diretamente de um casamento, ele chegou com cara de poucos amigos. Disse que estava com uma enxaqueca horrível, no que dissemos que ele deveria ter nos avisado e ficado em casa, descansando. Ele respondeu que queria despedir-se de nós. Tudo bem.

Acontece que, devido ao mal estar, ele estava com um humor péssimo, pior do que o deste que vos escreve. Em poucos minutos de estada junto a nós, por causa da sobremesa (não pediu massa, só uma sobremesa), brigou com o garçom e foi falar com o gerente. Como estávamos festivos (afinal a tão esperada viagem era no dia seguinte) o convencemos que o melhor era ele ir para casa. Concordou e foi descansar em casa, não mais de 10 minutos após ter chegado.

Devido a essa turbulenta passagem do Diovanne pela nossa mesa, nos poucos minutos em que ele esteve lá, tomamos toda a garrafa de vinho, antes mesmo das massas chegarem. Alegres e risonhos, tanto pela viagem iminente como pelo vinho, comemos massa à bolognesa e à carbonara. O dia ainda não havia acabado, contudo.

Chegando em casa, testamos o limpador de lentes do CD player, que acabou com o problema que ele apresentava, depois de quatro anos de uso sem manutenção. A partir daí, comecei a gravar fitas para ouvirmos no toca-fitas da Espace que, segundo o folder da Renault, não tinha CD player, o que facilitaria nossa vida em muito. Gravamos entre a noite de sábado e a manhã do domingo, cinco fitas com músicas variadas, desde Jovem Guarda, passando por alguns clássicos do rock nacional e internacional até uma seleção de pop rock que incluia a música "Amante Profissional".

Saturday, November 13, 2004

Roteiro (7)

Além das definições de roteiro na Europa e de acertar detalhes das coisas que ficariam pendentes no Brasil enquanto estivéssemos viajando, do tipo contas a pagar, segurança da casa, correspondências que chegassem, outro foco de atenção era com relação às condições climáticas que encontraríamos lá.

Marcelo (25/04 14h14) - "Domingo, 25/04/99 - faltam 14 dias...

Tempo
BÉLGICA

Bruxelas - parcialmente nublado (sol e nuvens), temp: 10/16 C
Brugge - parcialmente nublado, (sol e nuvens)temp: 11/16 C
Antwerp - chuvas, temp: 10/18 C

HOLANDA

Eindhoven - chuvas, temp: 9/17 C
Amsterdã - parcialmente nublado (sol e nuvens), temp: 10/16 C

ALEMANHA

Dusseldorf - chuvas, temp: 9/17 C
Frankfurt - parcialmente nublado (sol e nuvens), temp: 8/19 C
Berlim - ensolarado, temp: 10/20 C
Stuttgart - parcialmente nublado, temp: 6/18 C
Munique - chuvas, temp: 5/17 C

SUIÇA

Berna - chuvas, temp: 7/16 C
Geneve - parcialmente nublado, temp: 9/16 C

FRANÇA

Lyon - parcialmente nublado, temp: 10/18 C
Paris - parcialmente nublado, temp: 10/17 C "

Caio (28/04 22h50) - "VAI TÁ FRIO, GURIZADA!"

Dia 1º de maio, sábado, eu estava de plantão em Santa Cruz do Sul, onde eu fazia plantões mensais há exato um ano. Como faltavam oito dias para a viagem, em vez de 24 eu fiz apenas 12 horas noturnas, mesmo tendo ido de manhã para lá. Após o almoço, conseguimos completar a reserva do hotel em Bruges que o Caio já tinha encaminhado bem. Recebemos o fax do Hotel Fevery confirmando a reserva e nos mandando dicas de como encontrá-lo quando chegássemos lá. Faltava ainda o hotel de Paris.

Ao contrário de Bruges, onde nenhum de nós havia estado, Paris já havia sido visitada por boa parte do grupo (Jacque, Paulo e Karina). Pretendíamos ficar no Quartier Latin, Jardin des Plantes ou Luxembourg, seguindo as dicas deles. Por isso, tentamos reservar um dos hotéis em que eles haviam ficado, como os hotéis Saint Jacques e Rive Gauche. Tentamos reservá-los tanto via e-mail como por telefone, mas todos estavam lotados. Só fomos confirmar a reserva no dia 05/05, faltando quatro dias. O hotel escolhido (e que estava disponível ) foi o Hotel de France, no Jardin des Plantes.

Os últimos dias de trabalho foram dias de pouca paciência e muita ansiedade, o tempo se arrastando e a sexta-feira 07/05 parecia que não chegaria nunca. O final de semana seria intenso para todos. O domingo era dia das mães e aniversário do meu pai e tínhamos programado um almoço festivo numa churrascaria. Entrar de férias e poder desligar o telefone celular, que sensação maravilhosa!

Estava tudo pronto para começar a viagem.

Wednesday, November 10, 2004

Roteiro (6)

Todos as nossas atenções estavam voltadas agora para o roteiro que começava a tomar a sua forma final, iniciando-se em Bruxelas, na Bélgica, seguindo para a Holanda, Alemanha, Suiça e terminando na França, em Paris. Começamos a pesquisar sobre a Bélgica e suas atrações turísticas. Entre todas, despontava a cidade de Bruges. Na Holanda, Amsterdã era indiscutível. Quanto à Alemanha, destino turístico não tão popular para os brasileiros quanto outras partes da Europa, queríamos percorrer a Rota Romântica, visitar Munique e os castelos da Bavária. Na França, além da unanimidade que é Paris, pretendíamos conhecer os Vale do Rio Loire, com seus castelos famosos.

Apesar da aparente tranqüilidade, eventualmente ainda vinham à tona algumas divergências dentro do grupo. Os temas do momento eram o tipo de estabelecimento em que nos hospedaríamos e se deveríamos chegar em Bruxelas e seguir no mesmo dia para Bruges:

Caio (12/03 13h06) - "Comunicamos que, conforme reunião secreta entre quatro membros do grupo (maioria absoluta dos sete) decidiu-se que não haverá hospedagem em albergues, por unanimidade. Não caberão recursos de qualquer ordem."

Marcelo (12/03 22h46) - "Comunicamos que, conforme reunião secreta entre quatro membros do grupo (maioria absoluta dos sete) decidiu-se que chegaremos em Bruxelas, a visitaremos e sairemos em direção à Holanda no mesmo dia, por unanimidade. Não caberão recursos de qualquer ordem. "

Tivemos novo encontro dos Perdidos no dia 27/03, novamente na casa do casal X, para entrega solene das passagens que já haviam sido compradas, e também do moletom-uniforme para cada um dos integrantes. A compra deles e o bordado haviam ficado por conta da Jacque e da Karina. Não, elas não bordaram. Mas sabiam onde é que deveriam ir para tal. Em 31/03, acertamos o leasing do carro, a Renault Espace e providenciamos o seguro saúde para o período da viagem.

Iniciou abril e tínhamos já acertado boa parte dos itens fundamentais para os nossos planos (passagens, carro), mas ainda não estavam bem certos o nosso roteiro nem onde (cidade e hotel) ficaríamos quando chegássemos em Bruxelas. Também esgotava-se o tempo e obrigatoriamente deveríamos comprar os dólares.

Caio (05/04 21h29) - "Hoje, pode-se comprar travellers no Banco do Brasil a R$1,76, sem acréscimos, ou dólares a R$ 1,77, com 3% de comissão. No caso de sobrar travellers, eles podem ser vendidos por R$ 1,66 (hoje) ou utilizados para pagar o débito do cartão de crédito do banco, pela cotação do dia (hoje, R$ 1,76).
Será que esta não será a melhor semana para fazer esta compra?"

Como desde o início do planejamento o meio de comunicação mais utilizado por nós para discutir todo tipo assunto vinculado à viagem foi a internet - mais especificamente por e-mail -, nada mais natural que, quando estivéssemos lá pudéssemos nos comunicar com nossos familiares e amigos da mesma forma. Para isso, foi criado pelo Paulo o e-mail dos Perdidos (perdidosnaespace@hotmail.com). Foi com ele, além do telefone, que mantivemos nossas famílias informados sobre onde e como estávamos durante nossa "aventura".

Já em contagem regressiva para o dia do embarque, faltando menos de um mês para a saída, ultimávamos os detalhes. Ligações telefônicas para Paris tentando reservar o hotel, leituras sobre a Bélgica preparando-se para os primeiros locais a serem visitados.

Caio (21/04 22h21) - " Hoje tirei tempo para estudar bastante sobre a Bélgica em meu guia. Aparentemente, a Bélgica turística divide-se em quatro pontos:

1. Bruxelas
2. Brugge
3. Gent
4. Antuérpia

Segundo o que consta no meu guia, Brugge, Gent e Antuérpia tem atrações turísticas muito semelhantes (centros medievais), sendo portanto desnecessário visitá-las todas, a não ser que haja muito tempo sobrando. Caso seja necessária uma opção, a indicação é ficar com Brugge.

De acordo com a localização destas cidades, nosso ponto de chegada (Bruxelas) e nosso próximo destino (Amsterdã), sugiro que cada um dê sua opinião sobre a melhor maneira (ordem) de visitar estas cidades".

Caio (21/04 23h03) - "Hotéis na Bélgica - pesquisei somente Bruxelas e Brugge:

- Bruxelas - Les Bluets; quarto de casal de $48.85 a $76.55 com café da manhã; é o mais barato do meu guia mas é considerado um destaque, porque tem cada apartamento com decoração diferente, pé-direito alto e antigüidades, dando a atmosfera de uma confortável casa de campo.

- Brugge - Hotel Ensor (http://www.brugge.be/verblijf/nl/ensorn.htm); quarto de casal de $58.10 a $65.30 com café da manhã; é o mais barato do meu guia mas é considerado um destaque, porque há quartos com janelas para o canal, o que dizem que é o máximo!"

Paulo (22/04 17h59) - "dia 10 - chegar, ir para e dormir em Bruges.
dia 11 - conhecer Brugge e dormir em Brugge.
dia 12 - ir a Gent, ir a Bruxelas e dormir em Antuérpia
dia 13 - conhecer Antuérpia e partir para Amsterdã."

Caio (22/04) 19h33) - "Acho que Gent + Bruxelas em um só dia fica difícil (Gent é estacionar uma vez e caminhar muito muito; Bruxelas é estacionar no mínimo duas vezes
e dar boas caminhadas em cada; isto de acordo com os mapas destas cidades que
analisei). Será que não é melhor deixar fora Gent e ter o dia para Bruxelas? Ou então deixar fora Antuérpia e dormir em Bruxelas, aproveitando também a manhã seguinte em Bruxelas? Concordo em passar mais tempo em Bruges (é legal!) O que os outros acham?"

Marcelo (23/04 18h09) - "Achamos que poderíamos (eu, Marcelo, acho que devemos) cortar Gent e a Antuérpia.
10 - chegada no aeroporto e ida a Brugge
11 - conhecemos Brugge e dormimos lá
12 - vamos para Bruxelas, conhecemos e dormimos na periferia (é mais barato e fácil de estacionar)
13 - partimos rumo à Holanda"

Marcelo (23/04 18h15) - "Acho que devemos chegar, ir para Bruges e dormir lá. No segundo dia, conhecemos Bruges. No terceiro, vamos à Bruxelas a aí em direção à Amsterdã, talvez dormindo na Antuérpia.
Ou não. Isso tudo me pareceu muito tempo para pouco roteiro. Sei lá.
Mandei um e-mail para o hotel de Bruges (o que recomendaste) pedindo informações, e também para um hotel em Paris. "

Caio (26/04 21h12) - "Aline e eu concordamos plenamente!!!
FEEEIIIIIIITOOOOO!"

Tuesday, November 09, 2004

Roteiro (5)

Iniciava o mês de março, o verão no hemisfério sul ia para seus últimos estertores, o dólar estava a R$2,11 e faltavam 70 dias para viajarmos. Era a reta final se aproximando, momento de definições:

Paulo (01/03 17h07) - "tarefa: reserva de passagens

POA/BCN/PAR/POA ida-10/05 volta-02/06
15:00 ligo para o Elio
15:02 explico o que eu quero
15:07 reservas feitas para ida dia 10/05
15:15 problema na reserva da volta - vôo do dia 02/06 lotado
15:18 sugiro como ida 07/05 e volta 30/05
15:25 reservas feitas para ida 07/05
15:30 problema na reserva da volta - vôo do dia 30/05 apenas 3 lugares
vagos
15:34 outras rotas - Frankfurt tem vôos para voltar na quarta
15:35 cancela tudo e vamos tentar voltar por Frankfurt
15:36 reservas feitas para ida dia 10/05
15:40 reservas feitas para volta dia 02/06 por Frankfurt
15:41 tento desligar o telefone, mas não consigo
15:42 descubro a causa: minha orelha grudou no telefone

resultado da tarefa:
ida - saída 10/05 19:15 - chegada 11/05 16:50
volta - saída 02/06 18:30 - chegada 03/06 11:30

prova da tarefa:
1.2PETTERSON/CARLOSMR/ALINEMRS
2.2PARTICHELLI/KARINAMRS/ROBERTA*CHD*
3.1RODRIGUES/MARCELOMR 4.1RIZZOLLI/JACQUELINEMRS
1 VP 234X 10MAY 1 POAGRU HK6 1915 2050 /DCVP*BHMZVB
2 VP 780V 10MAY 1 GRUBCN HK6 2330 1650 11MAY 2
/DCVP*BHMZVB
3 ARNK
4 AF2418Q 02JUN 3 CDGFRA HK6 1830 1950 /DCAF*ZSN8O9
5 VP 731V 02JUN 3 FRAGRU HK6 2200 0530 03JUN 4
/DCVP*BHMZVB
6 VP 961X 03JUN 4 GRUPOA HK6 0910 1130 /DCVP*BHMZVB"

Caio (01/03 21h06) - "Então, as passagens custam U$ 837 (R$ 1422,90) por pessoa, o que dá R$ 2845,80 por casal.
Então, restam R$ 7154,20 por casal, o que dá U$ 3327,53 hoje (dólar a 2,15). Então, isto dá U$ 151,25 por casal por dia na Europa. Na primeira previsão, há alguns meses, definimos que seria conveniente U$ 235,00 por casal por dia, para evitar de privarmo-nos de opções de lazer. Então, ou gastamos U$ 6845 por casal (R$ 14716,75) ou a viagem dura somente 14 dias ou viajamos fazendo economia, o que, convenhamos, é a nossa última opção, porque teremos durante esta viagem muitas oportunidades únicas, que devem ser aproveitadas, e custarão caro."

Marcelo (02/03 - 19h35) - "Tenho a seguinte opinião: já definimos que vamos sair no dia 10/05 e voltar no dia 02/06. Temos até 31/03 para comprar as passagens a R$1,70 o dólar e podemos parcelar essa compra em 6x em reais c/ juros de 2% a.m. fixos. Pode-se até sugerir que excluamos as passagens dos R$10.000,00 por casal que planejamos inicialmente, porque não seria de todo insano pagá-las (as parcelas) com o dinheiro de cada mês. Isso daria cerca de US$4650,00, o que divididos por 20 dias dá US$232,00/dia. Pra mim, é claro como água que não vamos gastar tanto em nenhum momento da viagem. Mas isso não é o mais importante: além de saber que o Banco Real dá 10 dias no cheque especial, temos que ter em mente que NÃO ADIANTA TODO ESSE STRESS PORQUE VAI VIRAR UM SOFRIMENTO DIÁRIO A DÚVIDA SE VAMOS VIAJAR OU NÃO. NÃO PRETENDO INFARTAR ANTES DA VIAGEM. Se o dólar estiver um total absurdo no dia 31/03 (limite da VASP para 1,70), bom, aí a gente conversa. Antes, tudo é mera especulação."

Já tínhamos a reserva do avião e prazo para pagar até 31/03 com dólar a R$1,70, promoção da VASP. No dia 05/03, fizemos nova reunião com todo o grupo e não decidimos com certeza qual seria o roteiro. Ainda não decidíramos se chegaríamos por Barcelona, Paris ou Bruxelas, esta última ganhando mais força entre nós. Resolvemos que os uniformes seriam moletons com a inscrição bordada "Perdidos na Espace" e a letra de identificação de cada casal e da x'. Outras preocupações atormentavam alguns dos integrantes:

Caio (08/03 06h50) - " Segundo o guia Frommer's 99, é expressamente proibido manter objetos visíveis dentro do carro quando não houver pessoas a bordo, durante o dia, em toda a Europa, sob pena de arrombamento.
Será que o porta-malas da Renault Espace tem tampa?"

Paulo (08/03 16h59) - "1967 - Veranópolis de DKV
1969 - Areias Brancas de Fusca
1975 - Santa Catarina de Corcel
1982 - Veranópolis de Corcel II
1989 - Nordeste de Honda XLX350
1990 - América Latina de Honda XLX350
1991 - Europa de Fiat UNO
1993 - USA de OldsMobile
1995 - USA de MiniVan
etc. etc. etc.
Tu achas que alguém com um "curricuuulllllummmm" destes iria alugar
um carro sem tampa no porta-malas???"

Mesmo com algumas divergências entre o grupo, o bom humor sempre foi uma constante, como pode-se constatar. Ainda no dia 08/03, resolvemos o problema do início e o fim da viagem:

Paulo (08/03 17h49) - "Agora fodeu!!!!
Não tem mais choro.
Azar do dólar.
Valor da passagem: R$ 1.322,60 + taxa de embarque de R$ 139,10
Total por pessoa R$ 1.461,70
>
> 1.2PETTERSON/CARLOSMR/ALINEMRS
> 2.2PARTICHELLI/KARINAMRS/ROBERTA*CHD*
> 3.1RODRIGUES/MARCELOMR 4.1RIZZOLINI/JACQUELINEMRS
> 1 VP 194X 09MAY 7 POAGRU HK6 1515 1645 /DCVP*BHMZVB
> 2 VP 796V 09MAY 7 GRUBRU HK6 2030 1245 10MAY 1
> /DCVP*BHMZVB
> OPERATED BY SABENA BELGIAN
> 3 ARNK
> 4 AF2418Q 02JUN 3 CDGFRA HK6 1830 1950 /DCAF*ZSN8O9
> 5 VP 731V 02JUN 3 FRAGRU HK6 2200 0530 03JUN 4
> /DCVP*BHMZVB
> 6 VP 961X 03JUN 4 GRUPOA HK6 0910 1130 /DCVP*BHMZVB
> TKT/TIME LIMIT
> 1.TAW10MAR/ELIO
> PHONES
> 1.POA051-346-2774-A 051-346-5444-F
> ADDRESS
> TRIP AND TRAVEL AGENCIA DE VIAGENS "

Com uma pequena correção posterior:

Paulo (08/03 18h10) - "O Elio acaba de me ligar dizendo que quando ele solicitou a emissão das passagens foi informado que o valor de US$ 778 é válido para saídas em Março. O valor para maio é de US$ 821. Continua menor que a de Barcelona que era US$ 837. A passagem passa para R$ 1534,80. Todos no barco ainda???"

Monday, November 08, 2004

Roteiro (4)

Na metade de janeiro de 1999, o Brasil - que há 4 anos vivia sob a estabilidade do plano real com o dólar próximo a um real (cerca de R$1,22) - foi sacudido por mudanças na política cambial vigente no país. O real sofreu um ataque especulativo e a cotação do dólar começou a subir bem mais do que gostaríamos, porque o custo da viagem aumentava de preço proporcionalmente, óbvio. Tensão. Todos nós começamos a acompanhar o noticiário econômico e a sua cotação com muito mais atenção do que jamais fizéramos em todas nossas vidas.

Em 19 de janeiro, respondendo a uma interrogação do Paulo sobre se a viagem ainda estava de pé, o Caio respondeu que "Hoje, com o custo da viagem 30% maior, estamos à beira da inviabilidade; aguardamos estabilização da cotação para decisão definitiva..." . O casal Y (Jacque e eu) escreveu que "O casal Y até este momento (US$1,00=R$1,58) confirma sua participação na dita viagem...". Sabíamos, lendo e ouvindo os noticiários, que a real cotação do dólar só apareceria em alguns meses e que devíamos esperar. Mas era quase impossível - para quem se acostumou com dólar a 1,20 - não se impressionar quando chegou a 1,80, como em 26 de janeiro.

Decidimos nos reunir em Albatroz, litoral norte gaúcho, na casa de praia da família Rizzolli, em 06/02 - sábado - para tomar importante decisão: viajaríamos ou não? Também levantaríamos a questão de viajar pelo Brasil ou mesmo América do Sul, ou até de adiar a viagem por mais um ano, rejeitada de pronto. Problemas de trabalho - excesso de - impediram que o Caio e a Aline saíssem de Santa Cruz neste final de semana. A reunião saiu, apesar disso, na sexta-feira dia 05/02, com o Caio participando por telefone, falando do hospital em que fazia plantão. Decidimos algumas coisas que foram registradas em ata:

- tudo o que havia sido discutido sobre roteiro deveria ser esquecido;
- reduzimos a viagem de 30 para 21 dias;
- o custo estimado, excluindo-se a passagem, ficaria em R$10.000,00 por casal, independente da cotação do dólar;
- a data de saída seria no dia 08/05 e volta em 29/05, com exceção de quem fosse ficar para assistir as finais do tênis;
- os únicos pontos certo do roteiro seriam Paris e Londres.

Quando fizemos a reunião, prevíamos o dólar a 1,80. Na segunda-feira, 08/02, atingiu R$1,95. O Caio ameaçou um surto psicótico:

"Hoje, US$1,00 = R$1,95 (para a venda)
Isto é um aumento de 8,3% sobre os R$1,80 previstos.
Isto significa que R$10.000,00 + 8,3% = R$10.833,00
Ou que 20 dias menos 8,3% é 18 dias..."

O Paulo era o mais lúcido neste momento. Dizia que iríamos viajar de qualquer jeito, não adiantava ficar "secando" o dólar. Procurávamos formas de baratear as coisas. Uma das possibilidades era o leilão de passagens aéreas pela internet, que no final não deu em nada.

Já com a certeza de que iríamos de qualquer jeito, deveríamos decidir qual o roteiro a ser seguido. Para isso, em 20/02 nos reunimos na casa do casal X para um churrasco e deliberações de assuntos ainda pendentes. Obviamente curtimos muito mais o churrasco do que conseguimos resolver as pendências. Mas entre as possibilidades de viagem surgiu a idéia de chegarmos por Barcelona e sairmos por Paris. Poderíamos sair de Barcelona, visitarmos a costa do mediterrâneo, até Mônaco, daí a Berna, na Suiça, Genebra, e seguindo por dentro da França até terminar em Paris. Ou talvez indo de trem de Barcelona a Paris. Apenas nos comprometemos a continuar as pesquisas.

Após essa reunião, o Paulo, a Karina e eu decidimos ir a uma agência de viagens para começar a operacionalizar as coisas. Fomos na STB - Trip Travel, a mesma que havia nos ajudado na viagem aos EUA em 1995. Lá, conversamos com o Élio, que nos forneceu alguns orientações sobre passagens aéreas. Os preços mais baratos eram da VASP, que estava em promoção até 31/03 fazendo o dólar a R$1,70. Os preços eram os seguintes:

POA/Barcelona/POA - US$696,00
POA/Barcelona # Paris/POA - US$837,00
POA/Paris/POA - US$973,00

Concordamos que sair deveríamos sair de Paris, onde quer que chegássemos. Partimos então para outra discussão: qual o tamanho do roteiro rodoviário, que distâncias deveríamos percorrer nos aproximados 21 dias de viagem? Transformamos o assunto numa controvérsia bem séria. Havia diferenças de princípios neste assunto, como fica evidenciado nas transcrições dos seguintes e-mails:

Paulo (25/02 11h38) - "...partimos de Barcelona em direção ao sudoeste da França, Suiça, Alemanha, Rep. Checa (se der tempo), Holanda, Bélgica e França."

Caio (25/02 12h52) - "...ele quer fazer uma volta muito longa, aparentemente; sou mais de uma volta menor."

Paulo (25/02 14h03) - "Barcelona - Nice = 711 Km
> Nice - Berna = 255
> Berna - Munique = 435
> Munique - Praga = 384
> Praga - Berlim = 359
> Berlim - Amsterdã = 699
> Amsterdã - Bruxelas = 211
> Bruxelas - Paris = 309
Total = 3363
>Vinte dias de Europa, assim distribuídos:
>01 - Barcelona
>02 - Barcelona
>03 -
>04 - Nice
>05 - Berna
>06 -
>07 - Munique
>08 -
>09 - Praga
>10 -
>11 - Berlim
>12 -
>13 -
>14 - Amsterdã
>15 -
>16 - Bruxelas
>17 - Paris
>18 - Paris
>19 - Paris
>20 - Paris
>
>Isto dá em média 200 Km por dia, descontado os dias que ficaremos parados em Barcelona e Paris."

Caio (26/02 13h27) - "O roteiro é bem legal; tenho grande interesse em visitar todas estas cidades! Mas 200 Km por dia deixam a viagem desgastante; que tal 100Km por dia como média? 200 Km por dia totalizam cerca de 12% do tempo na Europa dentro do carro na estrada. Acho que a nossa viagem tem um valor muito caro por hora, devemos aproveitar estas horas melhor. A outra opção é fazer uma parte do percurso dentro da Europa de avião. Pelo menos aproveita-se melhor o tempo."

Marcelo (26/02 15h09) - "Entendo a tua preocupação com relação a isto, mas acho que vale a pena fazermos distâncias grandes de carro e ficarmos um tempo maior nos maiores lugares, tipo Barcelona, Paris. Por outro lado, não sabemos com
certeza se vamos agüentar o pique da viagem de carro.

Proposta:
- devemos ter um roteiro longo em mente (o maior viável);
- estaremos preparados (com informações, etc.) para cumprir este roteiro;
- durante a viagem, decidiremos quanto à viabilidade deste roteiro;
- num ponto do roteiro, teremos que decidir se continuamos ao leste ou não;

Por exemplo: o maior teria cerca de 4085km (!!) e sairia de Barcelona, contornaria pela costa do Mediterrâneo até Mônaco, daí à Genebra, Berna, Munique, onde decidiríamos se iríamos até Praga e Berlim ou ficaríamos na Alemanha (Rota Romântica), Amsterdã, Bruxelas e terminaríamos em Paris. A rota menor tem aproximadamente 2500km. Na Viagem e Turismo de março, tem um roteiro para passar uma semana em Paris gastando US$50,00 por dia!! Juntos chegaremos lá."

Caio (26/02 15h21) - "O roteiro pequeno deve ter no máximo 1500Km"
Marcelo (27/02 09h03) - "Vamos fazê-lo a pé?"

Também houve divergências de opinião quanto aos hotéis em que ficaríamos hospedados durante a viagem. Veja os e-mails:

Caio (26/02 15h27) - " Cada vez me parece mais imprescindível que saiamos de POA com todos os hotéis reservados, para evitar perdas de tempo diárias à procura de hotéis. Neste caso, precisamos de um roteiro preestabelecido. Está ficando em cima da hora."

Marcelo (27/02 09h05) - "Impossível reservar todos os hotéis. Acho que temos que ter uma certa liberdade quanto ao roteiro"

Marcelo (27/02 10h01) - "O casal Y reuniu-se esta manhã e chegou a algumas conclusões:

1 - O roteiro mais longo (de 4085km) é realmente MUITO longo e provavelmente muito cansativo;

2 - O roteiro pequeno proposto pelo Petterson é bem adequado e econômico, levando-se em conta que alugar bicicletas sai bem mais em conta que alugar uma van. ;-))

3 - Achamos que devemos fazer um roteiro com cerca de 2000 a 3000km, ou seja, um meio termo das propostas anteriores, abrindo mão de Praga e abdicando do maior sonho da minha vida, que é conhecer Berlin :-) que ficariam para depois, na viagem "Uma Van na Antiga Cortina de Ferro";

4 - É IMPOSSÍVEL ter todos os hotéis reservados, porque senão nos transformaríamos numa excursão convencional, sem liberdade nenhuma, e seria mais barato irmos pela Soletur, por exemplo.

5 - Como a viagem é na baixa temporada, não vai ser nada complicado encontrar hotéis vagos, bastando ir ao escritório de turismo da cidade (qualquer uma delas) quando lá chegarmos;

6 - Devemos ter reservado, isso sim, os Hotéis da chegada em Barcelona e o de Paris (este último é opcional, também, por não sabermos exatamente o dia que lá chegaremos;

7- A viagem ficaria restrita à Catalunha, sul da França, Suiça, Alemanha, Holanda e Bélgica e final triunfal em Paris (muitos países mas distâncias nem tanto).

Casal Y"

Sunday, November 07, 2004

Roteiro (3)

Esta proposta de roteiro não foi exatamente uma unanimidade, mas continuamos discutindo possibilidades de roteiro e pesquisando as possibilidades da travessia da Noruega para a Escócia via ferry boat. Nesta época, já no final de dezembro de 1998, o Paulo - aficcionado por tênis - manda e-mail para os outros integrantes do grupo dizendo o seguinte:

"Consultando as datas do mundo do tênis, descobri que o Roland Garros deste ano começa no dia 24/5 e termina no dia 06/06. Nossa previsão de volta ficaria justamente neste final de semana.
Perguntas:
Será que não vai estar muito conturbada a volta?
Que tal antecipar nossa ida para dia 02/05?
Em antecipando a volta, vou ter parceria para assistir para as finais?"

Surgia aí um elemento novo nas nossas discussões. Estaríamos em Paris justamente na época em que estaria se realizando o mítico torneio de tênis de Roland Garros. Para uma grande fã e adepto do esporte como o Paulo, era uma chance imperdível. Os outros integrantes preocuparam-se se a proposta reduziria a viagem ou seria um tempo a mais.

Em 04 de janeiro, o Caio nos enviou um e-mail com as informações sobre o ferry que sairia de Bergen, na Noruega, e iria até Newcastle, na Inglaterra, incluindo os valores das passagens. A viagem duraria vinte e uma horas. Estava tudo mais ou menos se encaixando. Nos mesmo dia, contudo, ele recebeu a resposta da operadora do ferry dizendo que ela não estava mais trabalhando nesta rota, nos fazendo voltar a estaca zero. Continuamos pesquisando na internet maiores informações a este respeito.

Em 13 de janeiro, o Paulo envia o seguinte e-mail:

"Está definido o carro da viagem.
Renault Espace 2.2DT Long - 7 seats - Diesel

Aproveitamos para lembrar que:
- o porta-malas mede 1,36m X 0,69m X 0,55m.
- temos um volume total de bagagens de 0,518m3.
- para evitar que o porta-malas entre em combustão espontânea e caso a Roberta encha muito o saco, deixaremos livre 0,078m3
- portanto cada casal terá 0,146m3 a sua inteira disposição.
- Para aqueles com dificuldades matemáticas e visualização volumétrica, significa que cada casal poderá levar 2 malas de 0,62m X 0,42m X 0,22m e outra de 0,50m X 0,50m X 0,35m, respeitando o volume máximo por casal.
Lembre-se: o seu volume de bagagens acaba quando começa o volume do próximo casal.
- Solicitamos ainda atenção especial no formato das malas. Evitem malas nos formatos de pirâmides, cones, roscas e espiral.

Agradecemos a atenção de todos e BOA VIAGEM!!!"

Pronto, já tínhamos o carro definido. Não sabíamos bem como atravessar da Escandinávia até a Grã-Bretanha, mas já era um importante avanço. Também já podíamos planejar a bagagem, porque sabíamos o espaço aproximado de porta-malas a que teríamos direito para uma convivência tranqüila com nossos companheiros. Essa questão, da mala, acabou nos envolvendo de tal modo que só terminou quando chegamos em Bruxelas. Sempre tivemos convicção de que, no final, estas pequenas questões práticas seriam facilmente resolvidas. O que não esperávamos era que fatores muito alheios a nós fossem colocar em risco todos os nossos planos.

Saturday, November 06, 2004

Roteiro (2)

Após a primeira reunião oficial, seguiram-se pesquisas e estudos visando o melhor roteiro a ser cumprido durante a nossa viagem, cada casal com a sua parte determinada mas, dentro dela, total liberdade. Foi então que surgiu o primeiro empecilho a esta idéia de roteiro: a melhor forma de ir de Bergen, na Noruega, até a Grã-Bretanha.

Explico: a idéia de fazer a travessia do Mar do Norte para alcançar as terras bretãs foi do Marcelo Rech (jornalista, grande amigo do Paulo e da Karina, viajante experiente), que sugeriu que fizéssemos o trajeto de ferry-boat, saindo justamente de Bergen. O Caio, por suas características obsessivas (o que explica o alarmismo), muito antes de sequer começarmos a estudar a fundo nossos roteiros, já tinha o seu pronto e nos deu a seguinte informação(via e-mail):

"... temos uma informação muito importante e até preocupante: há 2 ferries de Bergen para a Grã-Bretanha: um para a Inglaterra (Newcastle) e outro para a Escócia (Aberdeen.)

• O ferry para Newcastle sai às terças, sextas e domingos, com uma viagem de 21 horas de duração.

• Mas o ferry para Aberdeen inicia somente em junho (iríamos no primeiro!) e somente sai aos domingos às 2h da manhã; como ele faz uma escala na ilha de Lerwick (mais ao norte), chega na Escócia somente segunda-feira às 8h da manhã (30h de viagem). Porém como nossa viagem deve terminar numa sexta ou Sábado, isto encurtaria muito nossa passagem pelas ilhas britânicas. ..."

Com esse pequeno contratempo na formulação do nosso roteiro, começamos - principalmente a porção do grupo que mora em Porto Alegre - a pensar soluções para resolvê-lo. Uma das alternativas cogitadas foi mudar o roteiro cortando a Grã-Bretanha e estendendo a viagem para o leste em direção à Praga, na República Tcheca. Seria incluída no roteiro, junto com Praga, e por fixação minha, a cidade de Berlin.

Tomemos alguns instantes do seu precioso tempo, leitor, para que eu possa contar-lhes (me queixar) a discreta, mas de uma eficiência cirúrgica, campanha para excluir Berlin do roteiro (apenas e tão somente apenas porque era minha escolha, em mais uma campanha persecutória - uma entre várias - contra mim, que não sou nem um pouco paranóico e vejo tudo com uma lucidez impressionante). Pois é, tanto fizeram que conseguiram tirá-la do roteiro. Mas como eu disse que não ia ser derrotado sozinho, junto com Berlin eliminamos do roteiro Praga e Viena...

Voltando ao nosso relato, e após me certificar que não tem ninguém espionando o meu trabalho, havíamos parado na primeira reformulação do roteiro. Então, estava-se propondo a exclusão da Grã-Bretanha e uma extensão ao leste do roteiro. Como mantínhamos contatos praticamente diários entre nós, pessoalmente, por telefone ou via e-mail, discutimos e surgiu a primeira proposta de roteiro, feita por mim.

EUROPA 1999 – ESPERANÇA É UMA VAN

Proposta de Roteiro 1:

Maio de 1999

08 – Saída de Porto Alegre
19:00 RG818 p/ SP e 22:05 RG756 p/ LON
09 – Londres
10 – Londres
11 – Londres / Viagem à Paris
12 – Paris
13 – Paris
14 – Paris
15 – Viagem de Paris a Genebra (504km)
16 – Genebra – Zurique (286km) – Munique (312km)
17 – Munique – Salzburg (437km)
18 – Salzburg – Viena (291km)
19 – Viena
20 – Viena – Praga (284km)
21 – Praga
22 – Praga – Berlin (338km)
23 – Berlin
24 – Berlin – Hamburgo (284km) – Copenhagen (321km)
25 – Copenhagen
26 – Copenhagen – Gotemborg (241km)
27 – Gotemborg – Oslo (320km)
28 – Viagem Oslo – Bergen (472km) (lenta e fantástica)
29 – Viagem Oslo – Bergen (lenta e fantástica)
30 – Bergen
31 – Bergen – Oslo (472km bem rápidos)
01 – Oslo – Copenhagen (561km)
02 – Copenhagen – Hamburg (321km) – Bremen (ali perto)
03 – Bremen – Amsterdan (um pouco menos de 385km)
04 – Amsterdan
05 – Amsterdan – Bruxelas (211km)
06 – Bruxelas e retorno ao Brasil

Friday, November 05, 2004

Roteiro

PARTE II

A PREPARAÇÃO

Capítulo 6


Já estamos, neste momento, em julho de 1998. Já havia sido definido o grupo que viajaria e sabíamos para que continente que iríamos. De toda a Europa, havia apenas uma certeza: Paris. Porque se caso o roteiro não incluísse a cidade luz, a Jacque morreria de desgosto ou cortaria os pulsos em sinal de protesto. Os meus pulsos, que fique claro...

A partir de ou chegando em Paris, as possibilidades de roteiro eram quase infinitas. Porém, já no primeiro encontro (quando foi definido o grupo da viagem) havíamos definido que a viagem seria composta de três partes distintas: a primeira englobaria parte da França, Países Baixos e uma pequena parte da Alemanha (bem ao norte). A segunda seria através da Escandinávia, pela Dinamarca e Noruega, terminando em Bergen, nesta última, de onde tomaríamos um ferryboat que nos levaria para a Grã-Bretanha, onde visitaríamos a Escócia e a Inglaterra, terminando em Londres.

Como o roteiro seria extenso, e impossível de todos saberem tudo a respeito de todos os lugares que visitaríamos, por sugestão da Karina, resolveu-se delegar para cada casal uma parte pela qual seriam responsáveis por dicas históricas, pesquisas de hotéis, cidades, curiosidades, etc. Definiu-se da seguinte forma: Paris e arredores para a Jacque e para mim, Escandinávia para o Caio e a Aline, e Grã-Bretanha para a Karina e o Paulo. Cada casal teria total autonomia de definir tudo sobre o seu roteiro, desde que eu concordasse (vã tentativa minha, num arroubo megalomaníaco).

O tempo total de viagem seria de trinta dias, assim divididos pelo Caio, em e-mail que nos foi enviado: "A viagem será dividida em três partes de dez dias cada. Na primeira parte, Marcelo e Jacque perderão um dia com a viagem até Paris; na segunda parte, perderemos um dia com nossa viagem da Noruega à Grã-Bretanha; na terceira, Paulo e Kaká perderão um dia com a viagem até POA. Assim, cada casal terá nove dias de roteiro."

A partir de então, os casais atiraram-se à preparação de seus respectivos roteiros. Por exemplo, a Karina comprou o guia da Folha de São Paulo sobre Inglaterra, Escócia e País de Gales, e ficava lendo-o enquanto fazia sua bicicleta ergométrica na academia. O Paulo, por seu turno, não lia nada a respeito, para desespero da Karina. O Caio e a Aline compraram o Guia Frommers da Escandinávia e passaram a estudá-lo. Enquanto isso, a Jacque e eu, que prepararíamos o trajeto entre Paris e a Escandinávia, que englobaria passagem pela Bélgica Holanda e Alemanha, deixamos para depois da prova de Título de Especialista em Endocrinologia da Jacque o início da preparação (lembre-se que estávamos por volta de setembro de 98) da nossa parte na viagem. Uma coisa era certa e não permitia discussões: a Jacque já sabia exatamente o que faríamos em Paris e achava que qualquer que fosse o tempo destinado a esta cidade, seria muito pouco e não sabia se valia a pena ir pra lá se não fosse para ficar ao menos três meses!

Reuniões Preparatórias

Isto nos leva à primeira reunião preparatória da viagem, ocorrida dia 07/08/98 na casa do Paulo e da Karina. Reproduzo abaixo a ata desta, da qual fui o humilde (mas brilhante) redator (cabe ressaltar que foi aí, na redação da ata que surgiram as designações Casal X, Y e Z, que nos acompanhou até o final desta jornada):

"Ata da Primeira Reunião Preparatória da Viagem à Europa 1999"

Aos sete dias do mês de agosto do ano de mil novecentos e noventa e oito, na cidade de Porto Alegre, realizou-se à rua Lusitana, número 1053 apartamento 301, residência dos agora denominado casal X (Paulo Roberto Partichelli e Karina Rizzolli Partichelli) a primeira reunião preparatória para a viagem "Europa 1999".

Após estarem todos presentes no recinto, Marcelo Tadday Rodrigues - que junto com Jacqueline Rizzolli forma o casal Y - deu por iniciada a assembléia. Estavam presentes, além dos casais supra-citados, o casal Z, composto por Carlos Henrique Petterson e Aline Bergonsi Petterson. Conforme ritual preestabelecido, todos, com a mão direita erguida, confirmaram sua presença na viagem.

Foi lida a pauta da reunião, e após acalorados debates, foram tomadas as seguintes resoluções (aprovada pela maioria dos presentes):

1. serão feitas apenas fotos coloridas;

2. Levaremos 02 (duas) máquinas fotográficas e 01 (uma) câmera de vídeo;

3. Nem pensar em telefone celular;

4. Foi vetada qualquer mídia musical (1);

5. Estão vetados quaisquer brinquedos musicais infantis (levar, comprar, alugar, roubar, pedir emprestado);

6. É proibido permanecer por mais de 10 (dez) minutos dentro de um banheiro público quando em grupo (salvo casos de desespero total);

7. Os hotéis serão com ou sem café da manhã;

8. A data da partida será na primeira quinzena de maio;

9. O roteiro iniciará por Paris;

10. Em briga de casais, todos devem meter o "juju" (2)

11. A mala deverá ter como medidas 45X63X22cm (1/2m2)

12. O carro será uma van

Foi também definida a pauta da próxima reunião, em data a ser definida posteriormente:

- Uniforme, bagagens, slogan, chimarrão (3)

Nada mais tendo a declarar, lavrei a seguinte ata e encerrei a sessão.

Marcelo Tadday Rodrigues"

(1) Decisão polêmica, não foi uma unanimidade. Tanto que eu, logo após a reunião, intitulou-me o presidente da comissão responsável pelas mídias musicais;
(2) Não faço a menor idéia (acho que ninguém faz) o que quer dizer "juju"
(3) Resolveu-se que seria inviável pois seríamos presos por transportar "erva" conosco.

Thursday, November 04, 2004

"A Esperança"

Capítulo 5

Flashback:

Há vários anos, muito antes de eu entrar na vida da maioria dos integrantes da viagem, "decidi" tornar-me empresário do setor automotivo. Resolvi construir uma montadora de veículos em Porto Alegre, para competir com os automóveis importados. Ainda antes de escolher o terreno em que seria construído o complexo automotivo, e de descobrir de onde raios eu arranjaria dinheiro e condições para tal, decidi pensar no carro que produziria, e concluiu que seria um van e que se chamaria Esperança, porque "Vã é a esperança", um trocadilho infame com pretensões literárias.

De volta:

Com o grupo de viagem já formado, e pensando com seria a viagem, vimos que era infinitas vezes mais divertido viajar todo mundo no mesmo carro do que em carros separados. Carros convencionais não têm capacidade para transportar tanta gente. Que tipo de veículo foi o escolhido para transportar-nos pela Europa?

Você que marcou a alternativa C, que diz que o veículo escolhido foi o trem, PARABÉNS, você ganhou o direito de ir de volta à introdução e ler tudo de novo porque você NÃO ENTENDEU NADA ou dormiu, perdeu boa parte da história e, pior, provavelmente babou sobre este texto. Vá limpar-se mas, antes de ir, fique sabendo que o veículo escolhido foi uma van.

Numa van pelas trilhas da Europa. Esta seria a nossa viagem que, pelo tamanho do grupo, praticamente poderia ser chamada de excursão. Sabendo-se que era quase uma excursão, por que não ter um nome/slogan, como qualquer excursão que se preze? E um uniforme, então?

Claro que sim, ficou decidido que teríamos um slogan e um uniforme, que não poderia ser uma camiseta devido ao clima frio, mas sim um moletom. Qual slogan? Se não sabe, volte e releia os dois parágrafos de cima e então volte ao início do capítulo. Sacou? Sim, o slogan seria "Esperança, Uma Van na Europa".

Como nada é definitivo nesta vida, nem o mau humor do Autor, este simpático slogan durou até cerca de um mês e meio antes da viagem, quando na última reunião preparativa foi sugerido pelo Paulo um novo, baseado no nome da van na qual viajaríamos, a Renault Espace, que foi aprovado por unanimidade e que inclusive me fez mudar o título deste texto que neste momento escrevo e vocês lêem. O definitivo slogan, gravado nos moletons da viagem ficou sendo: Perdidos na Espace.

Wednesday, November 03, 2004

A Formação do Grupo

Capítulo 4


Neste momento, já sabendo qual seria o continente para onde viajaríamos no mês de maio de 1999, deveríamos definir quem iria (lembrem-se que a definição de viajar neste momento foi da Jacque e minha) conosco, porque viajar em grupo é mais divertido e mais barato. Num primeiro momento, a viagem familiar (a Europa é um destino familiar) foi a opção, e os lembrados foram os pais da Jacque, que haviam viajado com ela em 1994. O "Seu" Alfredo de cara cortou essa possibilidade, para frustração da "Tia" Sílvia.

Ainda no plano familiar, e também por já terem sido anteriormente excelentes parceiros de viagem, o Paulo e a Karina foram também convocados, e toparam a idéia de cara. E quanto à Roberta, sua pequena filha? Ela ficaria enquanto nós viajaríamos? Levaríamos junto? Não seria complicado viajar com criança pequena, e bibibi-bobobó? Quem se importa com isso? Certamente, eles não. A Roberta tinha que ir junto. Se não, a Karina ia querer voltar já na primeira escala, em São Paulo...

O grupo era composto por quatro adultos e uma criança que, quando da viagem teria, dois anos e meio. Fechado, então? Até que perfeitamente poderia ser este o grupo da viagem, mas - pensando bem - se com quatro é super-divertido, imagine com seis! Isto mesmo - querido leitor - seis adultos percorrendo a Europa de carro! Sem querer atropelar as coisas e já atropelando, como colocar todos num carro? Teria de ser uma van (isto eu explico mais tarde).

Foi então que, no dia 12 de junho de 1998, dia dos namorados, que completou-se o grupo dos "Perdidos na Espace", muito, mas muito tempo antes de se denominar desta forma. Aconteceu assim: já animados com a viagem (uma ano antes!), saímos para comemorar o Dia dos Namorados em grupo. Justamente "o grupo": Marcelo & Jacque, Paulo & Kaká e Caio & Aline. Fomos jantar - os três casais - no Café Cantata, em Porto Alegre. Lá, conversa vai, conversa vem, propusemos para o Caio & Aline a viagem e eles toparam. A Roberta não esteve presente porque comemorar o dia dos namorados com filho junto não existe. Claro, que jantar em grupo também não é o mais habitual, a não ser que você esteja no Sofazão, o que seria - no mínimo - disgusting. Formou-se - nesta noite romântica - o grupo que aventurou-se nesta trip que vos conto agora. Partimos, então, para a árdua e muitas vezes inglória tarefa de prepará-la.

Tuesday, November 02, 2004

Túnel do Tempo (2)

Capítulo 3 - A Idéia

Talvez seja um exagero dizer isso, mas - que diabos, eu sou o Autor - vou dizer: viajar pode ser considerado uma das marcas do meu relacionamento com a Jacque. Explico e continuo de onde parei no capítulo anterior: com apenas três meses de namoro, em junho de 1995, eu consegui sincronizar metade das minhas férias com as dela e a do casal Paulo e Karina, e fomos juntos, os quatro, para os EUA, mais especificamente para a Flórida (Miami e Orlando com Disneyworld) e para Nova York, Atlantic City e Washington. No final de vinte dias, voltei para o Brasil sozinho, com frio e na chuva, para trabalhar, e os três continuaram viagem rumo ao Canadá.

É por essa razão que afirmo que essa viagem, essa "empreitada" pelo velho mundo que motivou este relato que faço a você, caro leitor, surgiu em julho de 1995. Isso porque a melhor época de imaginar, de sonhar uma viagem é quando termina-se uma. Sempre se quer saber para onde será a próxima e, mais importante, QUANDO será a próxima.

Desde este momento, já pensávamos que nossa próxima grande viagem teria de ser para a Europa. A Jacque, porque já tinha ido duas vezes anteriores, a última em 1994 com os seus pais e o Marcelo (o Ex), quando havia alugado um carro e passeado pela França, Suiça e Itália, onde visitaram a cidade em que nasceu o pai dela, na região de Trento, norte da Itália. Queria voltar especialmente a Paris, porque quem foi uma vez para lá sempre quer voltar. Eu, porque a vontade de conhecer a Europa era antiga. O Caio e a Aline, noivos, planejavam o seu casamento e - suspeita minha - tinham essa viagem como plano de longo (bem longo) prazo. A Karina e o Paulo, que haviam passado a lua-de-mel de carro entre Portugal, Espanha, França, Itália e Suiça, queriam voltar para - quem pode dizer - reviver algum momento de supremo encanto ou - mais provável - porque viajar é um vício pior que a mais pesada das drogas. A Roberta ainda não era nem uma tentativa.

O que veio pela frente acabou adiando este projeto. O Caio e a Aline casaram-se em março de 1996, e a Jacque e eu fomos padrinhos. A Karina engravidou (a Roberta vai entrar na história). A Jacque eu nos casamos em agosto (mês do cachorro louco) de 1996, com o Caio, a Aline, o Paulo e a Karina (grávida) de padrinhos, e, em dezembro de 1996, nasceu a Roberta Rizzolli Partichelli, com a Jacque e eu de padrinhos.

A insuficiente renda gerada pela residência médica, o crédito educativo que eu tinha que pagar, o apartamento onde fomos morar - demais pro nosso bico, segundo a Jacque - estão entre as causas da impossibilidade de reunir o montante suficiente para podermos pensar em viagens grandes, como pretendíamos. Dificuldades mais ou menos similares impediram os outros casais de realizar esta viagem antes (para sorte de todos, porque não seria tão divertida quanto esta).

Com o final da residência médica, tudo mudou: a renda aumentou, às custas de muitos plantões da Jacque e da Força Aérea Brasileira, onde fui prestar serviço militar, para mim. O Caio e a Aline decidiram ir morar em Santa Cruz do Sul, terra natal de ambos, onde as oportunidades de trabalho eram bem maiores para ele. Só então foi possível a eles fazer uma poupança com vistas a viajar. A Karina e o Paulo não sabiam ao certo como juntar esta quantia, apesar de terem curtido uma semana de gripe em Cancún em maio de 1998.

Mas e a idéia? Como surgiu a idéia de ir para a Europa? Ao contrário do que parece nos escritos acima, nem sempre o continente que sediaria a viagem foi unânime. Eu explico: a viagem, na forma que foi concebida e gerou tudo, inclusive este relato, foi idéia minha e da Jacque. Havíamos definido que nas nossas primeiras férias após o final da residência médica, iríamos viajar. Desde o início, a Jacque bateu pé e fechou questão que seria para a Europa e que incluiria principalmente Paris, sua quase obsessão (que durante um bom tempo foi alimentada por este que vos escreve). Por outro lado, para complicar - como sempre - eu tinha outras prioridades. Não queria ir para a Europa? Estava esnobando a Europa? Não, claro que não. Não se assustem. Má vontade, só isso. Não por "espírito de porco" (o que não seria de espantar, vindo mim, diriam as más línguas), mas por um orgulho meio bobo, eu diria. Eu simplesmente não suportava a idéia de viajar para um lugar que eu não conhecesse e os meus companheiros de viagem, sim. Eu queria ir para um lugar onde nós pudéssemos desbravar juntos. Austrália, por exemplo. A Patagônia chilena. Ushuaia, o fim do mundo. Estes eram os lugares para onde gostaria de ir e - logo que for possível - para onde pretendo ir. "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Como não sou um teimoso a ponto de estragar tudo, óbvio que concordei com a viagem para a Europa, tendo Paris como um dos destaques do roteiro.

Com a definição de que íamos viajar em maio de 1999 (esta definição ocorreu em abril/maio de 1998), restava descobrir com quem viajaríamos, porque uma viagem destas é melhor quando feita em grupo, tanto pela diversão quanto pela divisão de gastos. Faltava descobrir quem seriam os nossos parceiros de aventura no velho mundo.

Monday, November 01, 2004

Túnel do Tempo (1)

Capítulo 2

Em resumo:

Aline namorava o Caio que estudou com o Marcelo que fez residência médica com a Jacque que era irmã da Karina que casou com o Paulo e deste casamento nasceu a Roberta.

Em detalhes:

Esta versão da história começa em 1989 quando eu ingressei na Faculdade de Medicina da PUCRS, em Porto Alegre. Coincidência ou não - vocês julgarão - o Caio também ingressou nesta mesma faculdade de medicina. Nesta época, ele e a Aline haviam terminado o namoro que começara no colégio, em Santa Cruz do Sul. A Jacque estava iniciando o 3° ano da Faculdade de Medicina, só que em outra universidade. A Karina já havia se formado em Relações Públicas na PUCRS e já trabalhava na Contarégis, empresa de equipamentos de automação comercial, assim como o Paulo, formado em Informática na PUCRS e trabalhando na PROCEMPA. Nesta época, a Roberta não era nem projeto de gente...

Estudando na mesma faculdade e na mesma turma, logo o Caio e eu nos conhecemos. Uma das primeiras imagens que eu tenho dele é, durante uma aula, quando ele ficava desenhando na parte de trás do seu caderno de notas a palavra "Aline" sob os mais variados "designs". Apenas após um par de anos, é que eu conheceria pessoalmente a dona deste nome, tantas vezes rabiscado por um ex-namorado não muito conformado com a situação de ex...

Seguindo a nossa história, quis o destino que, durante a faculdade, o Caio e eu nos tornássemos bons amigos, tendo compartilhado diversas ocasiões juntos, desde um estágio em Palmares do Sul até o mesmo grupo de amizades dentro da turma da faculdade (uma subturma, no caso). Com isso, quando nos formamos, praticamente comemoramos juntos. A especialização, Caio em cardiologia e eu em pneumologia, fizemos no mesmo hospital, o São Lucas da PUCRS.

Paralelo a isso, na mesma cidade, na outra ponta desta história que no final vai terminar com a aventura a qual vocês estão esperando que eu narre, a Jacque, que entrara na faculdade de medicina em 1987, em 1988 - em data incerta, segundo a mesma - começou a namorar o Marcelo. Atenção agora, para não perderem o fio da meada: o Marcelo que a Jacque começou a namorar NÃO SOU EU. Parece que ela tem uma fixação por este nome ou, bem possível, trocando de namorado para outro com o mesmo nome não seria preciso refazer os bordados do enxoval... Foi com este Marcelo (o Ex, a partir de agora) que a Jacque foi para a Europa em 1994 (depois eu conto, calma) e com quem namorou até dezembro de 1994.

Uma relação de seis anos e meio. Este foi o tempo que a Jacque namorou o Ex, o que significa que viveram muita coisa juntos, passaram por diversas experiências legais e outras nem tanto, e compartilharam amizades neste período. Foi através deles que a Karina conheceu o Paulo, que viria a ser o seu marido, pai da Roberta e colorado não muito convicto.

Aconteceu em 1989 - o mesmo ano que o Caio e Aline terminaram o namoro e que ele e eu entráramos na faculdade. Os responsáveis - se podemos dizer isso - pelo encontro de Paulo e Karina foram a Jacque e o Marcelo (o Ex). A Karina, "irmã-mais-velha-pero-no-mucho" da Jacque, havia terminado o noivado com o Valdomiro (esquece...) e estava sozinha. O Paulo, companheiro de futebol do Marcelo (o Ex), também estava solitário, sem namorada. Foi simples, então. A Jacque e o Marcelo (o Ex), armaram um encontro entre eles e a coisa deu certo: em 11/10/91, casaram-se, e foram passar a lua-de-mel na Europa (depois, depois).

O que não deu tão certo assim foi o namoro Jacque/Marcelo, falando-se em termos de eternidade. A relação deles durou até dezembro de 1994, quando alguns acontecimentos aos quais não vou narrar determinaram o fim do namoro, permanecendo entre eles um grande carinho e torcida mútua para que tudo dê certo na suas vidas. Mesmo hoje, passados quase dez anos, ainda conversam eventualmente e renovam os votos de que sejam felizes. O final da relação coincidiu com o término da especialização da Jacque em Pediatria e aprovação no concurso para Residência Médica em Endocrinologia e Metabologia no serviço de Endocrinologia do Hospital São Lucas da PUCRS.

É neste ponto que as histórias paralelas começam a se tornar uma única, pois foi aí, na residência médica, que Jacque nos conheceu (Caio e, de maneira muito mais intensa, eu). Fizemos juntos o primeiro ano, de medicina interna. No início do terceiro mês de residência, num jantar que reuniu os residentes da medicina interna na casa de um dos nossos colegas, começamos (a Jacque e eu) a namorar, o primeiro mês em segredo e depois "oficialmente".

Essa época, março de 1995, o Caio e a Aline já haviam noivado. Como contei alguns parágrafos acima, no início da faculdade, em 1989, eles estavam separados, separação essa que durou até 1991, quando retomaram o namoro, terminando por noivar em dezembro de 1994. O noivado foi feito à revelia dos colegas, que só ficaram sabendo no primeiro dia de residência. Houve certa indignação nossa (os amigos) porque queríamos fazer uma grande festa para comemorar... Isto porque seria o primeiro do nosso grupo.

Neste momento, março de 1995, os três casais que compõe o grupo já eram casais: Paulo e Karina casados de papel passado, Caio e Aline noivos com aliança e tudo, e a Jacque e eu iniciando o namoro. A Roberta só surgiria na história (e na vida) em dezembro de 1996. Como este grupo foi transformado num grupo de viagem, veremos mais adiante, na seqüência musical...

Sunday, October 31, 2004

O Grupo

Capítulo 1 - Quem Somos e o Que Fazemos

O grupo de viagem é composto por sete pessoas, abaixo listadas, que foram divididas em dois casais e um trio designados pelas letras X, Y, Z:

Paulo Partichelli - analista de sistemas, trabalha na Companhia de Processamento de Dados de Porto Alegre (PROCEMPA), joga tênis, paddle, e é um colorado não muito convicto... X. É o Xu.

Karina Rizzolli Partichelli - relações públicas, hoje em dia é sócia de uma escola infantil e acha que ficar 25 dias na Europa com o euro valendo R$5,00 é pouco tempo. X. É a Kaká.

Roberta Rizzolli Partichelli - dois anos e cinco meses na época da viagem, fala pelos cotovelos e tudo o que quer é "naninho/bico". x'. É a Betinha.

Marcelo Tadday Rodrigues - médico pneumologista e megalomaníaco. Auto-denominado "grão-vizir", apelidado de "homem-trena", é - na verdade - o "zangado" do grupo, sempre do contra. Sou o Marcelo da "Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo".Y. O Autor.

Jacqueline Rizzolli - médica pediatra e endocrinologista. Pensa que devíamos ficar apenas em Paris, o resto do mundo que se exploda. Está sentada à direita de Deus-Pai-Todo-Poderoso-donde-há-de-vir-julgar-os-vivos-e-os-mortos apenas por aturar o humor do seu marido, o Autor. É a Jacque. Y.

Carlos Henrique Petterson - médico cardiologista, mora em Santa Cruz do Sul, está super-tranqüilo com a viagem, e o apelido de "Dudu, o alarmista" é pura maldade dos companheiros. É o Caio. Z.

Aline Petterson - na época, acadêmica de Direito, mora em Santa Cruz do Sul e é o único ser humano vivo identificado que consegue controlar os ataques alarmistas do "Dudu". "Enforcou" meio semestre de aulas para fazer parte do grupo. Z. É a Line (trocadilho...)

Saturday, October 30, 2004

Introdução

Falemos inicialmente de um dos grandes prazeres da vida: viajar. Segundo alguns, viajar é um dos maiores, quiçá o maior, situando-se o grau de satisfação que proporciona entre a Fanta laranja e o sorvete de chocolate comido naquelas embalagens de dois litros, um pouco atrás do sexo e, claro, do chimarrão. É claro que sempre haverá aqueles que discordarão deste ranking, mas, sem dúvida, concordarão que viajar é muito gostoso e excitante.

É disso que vamos falar nestas mal traçadas linhas sem muitas pretensões literárias. O verbo viajar com suas conjugações e tempos. Isto porque viajar conjuga-se muito no futuro, pouco (sempre é pouco!!) no presente, e, finalmente, passa-se o resto da vida conjugando viajar no passado. O resto da vida ou até a próxima vez, quando então o ciclo de conjugação recomeça e, no final, acrescentaremos mais passado ao nosso verbo viajar.

Para termos uma idéia disto que estou falando, não iremos nos restringir a teses acadêmicas e filosóficas, do tipo "o impulso de viajar é inerente ao homem moderno, e vem de tempos pré-históricos, das tribos nômades que vagavam pelo mundo em busca de alimento e abrigo e..." e sei lá o quê. Não, leitores, fugiremos deste tipo de análise. Aliás, não faremos análise nenhuma, pois o que vem pela frente é uma narração, o mais completa possível, de uma viagem com todas as suas etapas, desde o planejamento até sua execução, com todos os contratempos imagináveis e inimagináveis. Relataremos as aventuras de um grupo viajando numa van (a Renault Espace) pela Europa.

Acompanharemos todos os momentos desta viagem, desde sua concepção, sua gestação complicada pelo dólar, até o parto da sua realização. Esta viagem iniciou dia 09/05/99, Dia das Mães, no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, de onde embarcamos para São Paulo na primeira etapa de um vôo que nos levou até Bruxelas, já em solo europeu e início do passeio por este continente. Contudo, ela começou a ser gestada em julho de 1995 e, a partir de 12 de junho de 1998, começou a tomar formas concretas (veremos no decorrer da trama que não tão concretas assim).

Espero que vocês aproveitem tanto quanto nós.

Thursday, October 21, 2004

Perdidos na Espace

Em breve, a verdadeira e completa história dos Perdidos na Espace.

Toda a saga deste grupo que viajou numa van (a Espace) pela Europa em maio de 1999, desde a formação do grupo, a preparação da viagem, e a própria, em detalhes.

Em breve.

Vocês não perdem por esperar...