Capítulo 3 - A Idéia
Talvez seja um exagero dizer isso, mas - que diabos, eu sou o Autor - vou dizer: viajar pode ser considerado uma das marcas do meu relacionamento com a Jacque. Explico e continuo de onde parei no capítulo anterior: com apenas três meses de namoro, em junho de 1995, eu consegui sincronizar metade das minhas férias com as dela e a do casal Paulo e Karina, e fomos juntos, os quatro, para os EUA, mais especificamente para a Flórida (Miami e Orlando com Disneyworld) e para Nova York, Atlantic City e Washington. No final de vinte dias, voltei para o Brasil sozinho, com frio e na chuva, para trabalhar, e os três continuaram viagem rumo ao Canadá.
É por essa razão que afirmo que essa viagem, essa "empreitada" pelo velho mundo que motivou este relato que faço a você, caro leitor, surgiu em julho de 1995. Isso porque a melhor época de imaginar, de sonhar uma viagem é quando termina-se uma. Sempre se quer saber para onde será a próxima e, mais importante, QUANDO será a próxima.
Desde este momento, já pensávamos que nossa próxima grande viagem teria de ser para a Europa. A Jacque, porque já tinha ido duas vezes anteriores, a última em 1994 com os seus pais e o Marcelo (o Ex), quando havia alugado um carro e passeado pela França, Suiça e Itália, onde visitaram a cidade em que nasceu o pai dela, na região de Trento, norte da Itália. Queria voltar especialmente a Paris, porque quem foi uma vez para lá sempre quer voltar. Eu, porque a vontade de conhecer a Europa era antiga. O Caio e a Aline, noivos, planejavam o seu casamento e - suspeita minha - tinham essa viagem como plano de longo (bem longo) prazo. A Karina e o Paulo, que haviam passado a lua-de-mel de carro entre Portugal, Espanha, França, Itália e Suiça, queriam voltar para - quem pode dizer - reviver algum momento de supremo encanto ou - mais provável - porque viajar é um vício pior que a mais pesada das drogas. A Roberta ainda não era nem uma tentativa.
O que veio pela frente acabou adiando este projeto. O Caio e a Aline casaram-se em março de 1996, e a Jacque e eu fomos padrinhos. A Karina engravidou (a Roberta vai entrar na história). A Jacque eu nos casamos em agosto (mês do cachorro louco) de 1996, com o Caio, a Aline, o Paulo e a Karina (grávida) de padrinhos, e, em dezembro de 1996, nasceu a Roberta Rizzolli Partichelli, com a Jacque e eu de padrinhos.
A insuficiente renda gerada pela residência médica, o crédito educativo que eu tinha que pagar, o apartamento onde fomos morar - demais pro nosso bico, segundo a Jacque - estão entre as causas da impossibilidade de reunir o montante suficiente para podermos pensar em viagens grandes, como pretendíamos. Dificuldades mais ou menos similares impediram os outros casais de realizar esta viagem antes (para sorte de todos, porque não seria tão divertida quanto esta).
Com o final da residência médica, tudo mudou: a renda aumentou, às custas de muitos plantões da Jacque e da Força Aérea Brasileira, onde fui prestar serviço militar, para mim. O Caio e a Aline decidiram ir morar em Santa Cruz do Sul, terra natal de ambos, onde as oportunidades de trabalho eram bem maiores para ele. Só então foi possível a eles fazer uma poupança com vistas a viajar. A Karina e o Paulo não sabiam ao certo como juntar esta quantia, apesar de terem curtido uma semana de gripe em Cancún em maio de 1998.
Mas e a idéia? Como surgiu a idéia de ir para a Europa? Ao contrário do que parece nos escritos acima, nem sempre o continente que sediaria a viagem foi unânime. Eu explico: a viagem, na forma que foi concebida e gerou tudo, inclusive este relato, foi idéia minha e da Jacque. Havíamos definido que nas nossas primeiras férias após o final da residência médica, iríamos viajar. Desde o início, a Jacque bateu pé e fechou questão que seria para a Europa e que incluiria principalmente Paris, sua quase obsessão (que durante um bom tempo foi alimentada por este que vos escreve). Por outro lado, para complicar - como sempre - eu tinha outras prioridades. Não queria ir para a Europa? Estava esnobando a Europa? Não, claro que não. Não se assustem. Má vontade, só isso. Não por "espírito de porco" (o que não seria de espantar, vindo mim, diriam as más línguas), mas por um orgulho meio bobo, eu diria. Eu simplesmente não suportava a idéia de viajar para um lugar que eu não conhecesse e os meus companheiros de viagem, sim. Eu queria ir para um lugar onde nós pudéssemos desbravar juntos. Austrália, por exemplo. A Patagônia chilena. Ushuaia, o fim do mundo. Estes eram os lugares para onde gostaria de ir e - logo que for possível - para onde pretendo ir. "Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura". Como não sou um teimoso a ponto de estragar tudo, óbvio que concordei com a viagem para a Europa, tendo Paris como um dos destaques do roteiro.
Com a definição de que íamos viajar em maio de 1999 (esta definição ocorreu em abril/maio de 1998), restava descobrir com quem viajaríamos, porque uma viagem destas é melhor quando feita em grupo, tanto pela diversão quanto pela divisão de gastos. Faltava descobrir quem seriam os nossos parceiros de aventura no velho mundo.
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