A Jacque e eu fomos acordados magnificamente pelo aroma de pão doce que vinha da padaria do hotel. O café, como conseqüência, foi espetacular. Juntamos nossos trapos, carregamos a van, e partimos para aquele que seria o "dia dos castelos". Abandonamos Schongau com o Caio dirigindo e eu na função de navegador.
Já que toquei no assunto, deixe-me, caro leitor, falar um pouco de mim e minha relação com a navegação. Se tudo ocorreu como imaginado pela mente megalomaníaca deste escritor/personagem da história, a maioria de vocês não me conhece pessoalmente. No máximo, estiveram prestigiando a sessão de autógrafos deste humilde candidato a best-seller... Então, vou falar das minhas qualidades de orientação e concepções a cerca do assunto. Pois é, para vocês que não me conhecem pessoalmente, saibam que sou um velho lobo-do-mar, que desde criança aprendeu a se orientar pelas estrelas (e pelo meu ascendente...). Os mapas, para mim, sempre foram apenas representações gráficas daquilo que está ali, na palma da minha mão. O mundo sempre foi a minha casa, e sempre andei por aí (pelo mundo, no caso) apenas por instinto, como quem vai ao banheiro de sua casa durante a noite, na escuridão, sabendo onde está cada móvel, cada porta fechada.
Voltando a história após este pequeno preâmbulo, havíamos combinado na noite anterior que nossa primeira parada seria o Hoher Peissemberg, o primeiro pico da cadeia alpina, com 3000 pés de altura. Subimos de carro para fotos e fotos. Voltando em direção a Schongau, pegamos a B23 até Rottembuch. Chegando lá, todos - injustamente, claro - recriminaram o navegador só porque havíamos decidido no jantar que NÃO iríamos até lá... Retomamos a rota, e fomos até a Wieskirche, que fica no vilarejo de Steingaden, a 9km de Rottembuch. Esta igreja fica no meio duma pradaria ("meandro", segundo o Caio, numa tradução livre de meadow), tem arquitetura barroca rococó, e, ao entrar, fica-se fascinado com a beleza e a riqueza de seu interior.
Para sair de lá, o navegador (no caso o escritor, este que escreve) viu uma pequena placa que apontava para uma pequena estrada e indicou-a para seguirem viagem. Descobriu-se, após, que era uma ciclovia. Recriminações, de novo...
Corrigido o rumo, partimos em direção à Schwangau (não Schongau) e os castelos de Hohenschwangau e Neuschwanstein. Neste momento, o dia que havia amanhecido parcialmente nublado, escureceu (eram 11h30). Estacionamos o carro e fomos primeiro ao Schloss Hohenschwangau. Quando alcançamos a entrada, começou a chover. Fizemos, então, a tour guiada em inglês. Este castelo foi construído pelos Cavaleiros de Schwangau no século XII. Foi nele que príncipe Ludwig - que viria a ser rei no futuro - passou parte de sua juventude e onde conheceu o compositor Richard Wagner, que foi seu grande amigo. Esta tour dura cerca de 30 minutos, custa DM$12,00 e realmente vale a pena. Pode-se fazê-la - em grupos - com guias falando inglês, alemão, francês, italiano.
Durante a visita, a cada vez que olhávamos pela janela, víamos que a chuva era cada vez mais forte. No final do tour, tomamos um banho de chuva para voltar ao local de onde partem os ônibus para o outro castelo a ser visitado. Neste momento, lá embaixo, a chuva havia parado. Decidimos, então, subir de ônibus até o castelo de Neuschwanstein. Estes ônibus que fazem este percurso partem a cada 20 minutos e custa DM$5,00 por pessoa ida e volta. Quando enfim partimos, voltou a chover. O trajeto é uma subida íngreme por uma estrada estreita que serpenteia penhascos que começam logo após o acostamento. Além disso, vai numa velocidade assustadora (para as mulheres, óbvio...).
Chegando ao final do trajeto, ainda restam cerca de 200 ou 300m de caminhada para cima e para baixo até chegarmos na bilheteria, onde encontram-se os sanitários e lojinhas de souvenirs, onde compramos guardas-chuvas, nossos novos companheiros de viagem. O Caio e a Aline decidiram fazer a tour guiada dentro do castelo, enquanto que o resto dos Perdidos resolver voltar para baixo, molhados, com frio e com fome (só faltava ser noite, estarmos sozinhos e com sono para ser a pior situação do mundo, exageros à parte...). No caminho até o ponto do ônibus, fomos até a Marienbrücke, a ponte que tem a melhor visão do vale e do castelo, ainda mais impressionante devido ao tempo chuvoso em que nos encontrávamos. Fotos, vídeo.
Novamente de ônibus, e com a Beta dormindo no colo da Dinda Jacque, voltamos à base, entre os dois castelos. Foi aí que tivemos a refeição "mais a calhar" da viagem, até aquele momento e provavelmente de toda ela: Erbstein Zoup, ou sopa de ervilhas para aqueles que não falam alemão (assim como eu também não falo). Junto com a sopa, pretzels. Claro, estava ótimo, mas não tão boa como a famosa Sopa de Ervilhas Anual do Marcelo...
Perdidos reunidos, à estrada. Pela 314, rumamos em direção à Áustria, mais precisamente Innsbruck. É uma estrada muito bonita, em que vamos subindo os Alpes e vemos constantemente os picos nevados e lagos de cores inacreditáveis, compostos por água de degelo. Pouco antes de Innsbruck, ainda sob chuva, paramos no Tourist Information. Conseguimos hotel e algum câmbio. Instalados num simpático hotel familiar, fomos passear e jantamos num restaurante na subida de uma montanha, onde comemos o melhor apffelstrüdel da viagem e, quiçá, do mundo, coberto, além da nata, com sorvete de creme. E, melhor de tudo, a comida na Áustria é muito mais barata do que na Alemanha.
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