Friday, January 20, 2006

31/01/02 – Paris

Hôtel Minerve

Marcelo:

O vôo, que saiu às 23h50, foi realmente muito tranquilo. Momentos antes do embarque, comprei uma revista para ler na noite insone que me aguardava e, já na poltrona 36K, corredor à esquerda de quem entra, ajeitei-a para ler após a janta e quem sabe o filme, que descobri ser ‘Inteligência Artificial’, do Spielberg, o que não me animou muito, um filme de razoável a bom que se perde no final e eu não queria ver de novo. Sentia-me cansado, os olhos “pesados”, mesmo antes da janta e do Dormonid que tomei ao seu final, mas que não teve tempo de entrar em ação porque, segundo a Jacque, apaguei dormindo logo ao sentar na poltrona de volta do banheiro. O relógio já ajustado no fuso horário francês, dormi com pernas muito pouco inquietas, para meu espanto.

Quando ainda faltavam cerca de quatro horas para chegarmos em Paris, fomos todos despertados por uma solicitação de uma comissária que se houvesse algum a bordo, se apresentasse. Muito mais em busca de ação do que acreditando que poderia ajudar, atravessei o avião e fui onde estavam algumas comissárias e – logo identifiquei – um médico francês conversando com uma senhora idoso, a quem parecia faltar o ar. Fiquei observando por alguns instantes e tentei conversar com o colega, que não me deu atenção. Tentava fazer funcionar um monitor cardíaco mas não conseguia conectar os cabos ao aparelho. Comecei a ajudá-lo, tentando desentortar as conexões, sem sucesso. Neste meio tempo, transportamos a paciente para a classe executiva, onde ficaria mais confortável.

Quando pude, afinal, examinar a paciente e discutir o caso com o colega, chegamos a mesma hipótese diagnóstica: embolia pulmonar. Fui, então, chamado à cabine de comando onde expus o caso e nossa opinião de que deveríamos pousar o mais rápido possível. Faltavam, neste momento, duas horas para chegarmos em Paris e 1 horas (para trás) até Lisboa, local mais próximo. Foi solicitado que eu colocasse os fones e passasse o caso – em inglês – para uma central médica de comando, situada em Estocolmo. Com meu inglês (à época) meia-boca, quebrei o galho, mas a decisão foi prosseguir até Paris, mesmo que não tivéssemos recursos outros que não oxigênio por uma máscara muito precária. Fomos até o destino de olho na paciente, que chegou em condições adequadas para ser atendidas pelos médicos de terra. Com isso tudo, conquistei a simpatia da tripulação, que me ofereceu um lauto café da manhã (meio dia hora de Paris) na classe executiva.

Chegamos bem, junto com nossas malas, mas sem carimbo no passaporte para provar que entramos. Prontos, pegamos um táxi após fazer câmbio, e após não muito longa viagem, chegamos ao nosso hotel. Chegar no Hôtel Minerve, rue des Écoles, 13, vizinho de porta do Hote Família, é como voltar para casa. O pinheiro de natal não está no lugar, mas em dezembro volta. Instalados no quarto 401, tomei um banho rápido para “tirar o avião do corpo” e desci para esperar o Neni, meu irmão, que não via há 1 ano, chegar de toca de lã escondendo o cabelo meio comprido. Olho bem para “re-conhecer” o irmão que não é pródigo porque ainda não voltou.

Já com a Jacque junto, saímos a andar sem compromisso, ele conhecendo e nós matando as saudades da cidade, do Brioche Dorée, da padaria Paul, o rink de patinação em frente ai Hôtel de Ville, o entardecer de céu azul passando tonalidades avermelhadas até escurecer totalmente e a cidade mostrar porque é luz. À noite, o ritual: spaguetti a fruits de mer do La Comedia, Neni, Jacque e eu e o vampiro Pierre representando o Fred. Maravilhoso.

Alpes 001 - Paris Hote de Ville

A temperatura à tarde era de 13ºC.

Vive la France!

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